terça-feira, 31 de maio de 2011

Green Day - Dookie [1994]

Esse disco marcou particularmente a minha adolescência. Quando eu tinha 15 anos, achava que dentre as coisas mais legais da vida, estava o Dookie. Até hoje, acho que eu estava certo, um disco muito legal pra quando se é jovem. O punk rock seco, cômico e tradutor da vida de muito gente na puberdade. Foi sem dúvida, um clássico.

Até aí, tudo bem. Bille Joe, Mike Dirnt e Tre Cool tinham em média 20 e poucos anos de idade. Uma bermuda, um cabelo desengonçado, brincos e uma atitude jovial faziam parte do contexto, parecia nascer ali, uma promissora rock band que evoluiria com o tempo, desenvolvendo seu som ao decorrer dos anos, era mais ou menos que qualquer um esperava. Mas, nem saberia eu, que para mim o Green Day acabaria ali.

O ser humano tem uma enorme dificuldade de lidar com o tempo. Os gregos, tanto davam importância ao tempo, que consideravam que Cronos, o Deus do Tempo, sucedeu Urano no governo do universo. Governando até ser derrotado por Zeus, seu filho, no que ficou conhecido como a Guerra dos Titãs. Ou seja, resumidamente, os únicos que poderiam vencer o tempo, eram os deuses, então, você, humano, sempre esteve fudido.

Mas, como o ser humano é estúpido e burro o suficiente, continuou perdurando sua vida em tentar vencer uma guerra já perdida. Plásticas, maquilagens, implantes, vida regrada e saudável, atitude jovial. Em um tom equilibrado, não considero isso ruim, deve estar atrelado a algum tipo de extinto de sobrevivência. Mas, quando em demasia, é no mínimo escroto. Foi justamente tentando manter essa imagem de eterno, que o Green Day se perdeu.

Uma banda é reflexo direto de suas influências e de seus componentes, se a idade os pune, o próprio grupo a acompanha, um desenvolvimento e amadurecimento de um som é paralelo a mudança de vida de seus integrantes.

Se pintar, vestir preto, pintar o cabelo, cantar músicas sobre devaneios adolescentes, é lindo quando se tem 20 anos, mas é ridículo quando se tem 40. Tenho um pôster de Gessinger no Rock In Rio de 91, um garotão empunhando um baixo em ‘Ninguém é Igual a Ninguém’. Próprio de seu espírito e de sua época, assim como o dente de ouro e o bigodinho do último ao vivo dos Engenheiros do Hawaii. Uso ele, como exemplo de alguém que envelheceu sabendo lidar com a necessidade do amadurecimento tanto pessoal quanto profissional, coisa que passou longe.

Assim, mantenho o Dookie como lembrança de uma das bandas que eu mais gostava e que mais esperava, que mais me decepcionou. Saibam vocês, que já dizia o mestre Antunes: a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer.

1- Burnout

2- Having a Blast

3- Chump

4- Longview

5- Welcome to Paradise

6- Pulling Teeth

7- Basket Case

8- She

9- Sassafras Root

10- When I Come Around

11- Coming Clean

12- Emenius Sleepus

13- In The End

14- F.O.D/All By Myself

Link: http://www.*4shared*.com/file/wTfCQCih/GreenDay_-_Dookie.htm

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mombojó - Nada De Novo [2004]

Completando 10 anos esse ano, O Mombojó foi, sem dúvida, a coisa mais legal da cena Recife/Olinda desde a já longínqua Nação Zumbi. Eu, particularmente, depois de ouvir incessamente durante um bom tempo, larguei um pouco dessa turma logo após da morte de O Rafa e da saída de Marcelo Campello.

Entretanto, após a aparição no palco do RecBeat esse ano, meu disco favorito, o Nada de Novo, começou a rodar novamente pela cabeça, entre sussurros, batidas e execuções. Essa rapaziada é o exemplo clássico de que uma banda mesmo totalmente principiante, fruto e participante de uma cena, pode tornar-se ciente da necessidade do experimento de novos sons, e assim, com afinco e profissionalismo, alcançar uma nova atmosfera.

O Mombojó era apenas um grupo de adolescentes que davam ritmo a alguns aglomerados de versos de Felipe S. até o momento em o papai de Marcelo e Vicente Machado, resolveu transformar o grupo em um projeto muito bem arquitetado apto a receber recursos do Sistema de Incentivo à Cultura da Prefeitura do Recife.

Com o apoio governamental, veio a oportunidade da gravação do primeiro cd: Nada de Novo. Ao contrário do nome, o disco caiu nas graças do público tanto daqui, quanto da mídia sulista, pela novidade do aglomerado de harmonização de vários instrumentos, misturando nuâncias de jazz, bossa-nova, rock´n´roll, surf music e o caralho a quatro. Por Maurício Valladares, na Revista Ronca Ronca em 2004:

"A bola que Jorge Ben passou pra Fred 04 agora esquenta o gogó do vocalista Felipe. Sonho então com o Credicard Hall lotado, e Felipe cantando músicas como ‘Merda’. O mestre alquimista diria: ‘Que maravilha!’'

Na formação original, percebia-se a presença de: guitarra, baixo, bateria, teclado, violão, flauta e escaleta, além da rabeca, também presente no disco. A consciência da possibilidade de utilização de tantos instrumentos vinha sem dúvida, da Nação Zumbi, que pela idade, já poderia ser considerada a mamãe de muita gente. Eu, em inocente achismo, determino que a partir do surgimento desses caras o rock pernambucano se consolidou como fonte miscigenadora de ritmos e de atenção especial a grafia, a letra.

A coisa ia de vento em poupa, com o lançamento de Homem Espuma, de 2006. Mas, como a vida é injusta pra cacete em várias vertentes, uma tragédia abalou o caminho da banda. Em 2007, O Rafa, flautista e compositor, teve um infarto e faleceu. Sem ele, inevitável ficou a permanência de Campello, que permanecia no grupo graças a amizade com Rafa, não sendo publicamente íntimo dos outros integrantes. Essa dupla perda abalou como um tsunami o som da turma, que agora teria que se virar sem flauta e violões, a guitarra-base passaria para Felipe S. tornando a mistureba mais pobre e menos intensa.

Até aqui, eles continuam muito bem, apesar que confesso que nada pra mim se compara ao primeiro disco, com muita pena posso dizer que o verdadeiro Mombojó se foi com O Rafa.

1- Cabidela

2- Deixe-se Acreditar

3- Nem Parece

4- Discurso Burocrático

5- A Missa

6- Absorva

7- O Céu, o Sol e o Mar

8- Adelaide

9- Duas Cores

10- Estático

11- Merda

12- Splah Shine

13- Faaca

14- Baú

15- Container

Link: http://www.*4shared*.com/file/vjomwHpv/Momboj_-_Nada_de_novo.htm

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Tiê - A Coruja e o Coração [2011]

Que Tiê é uma mulher do caralho, eu já disse por aqui. Dona de uma voz doce, simplória e apaixonante, apareceu muito bem com seu disco de estréia, Sweet Jardim. 2 anos depois, era inevitável que um segundo cd seguisse a mesma levada do primeiro e entusiasmado disco.

Mas, é engraçado como a vida nos acoberta com milhões de eventos diferentes, e, de certa forma, somos totalmente contagiados por eles. Num espaço curto de tempo, uma gravidez, o aparecimento no novo cenário da música brasileira e o convívio com novos parceiros musicais, transformaram a atmosfera e a execução de sua própria musica, propiciando uma outra concepção para novas canções.

É assim que A Coruja e o Coração difere em vários pontos de Sweet Jardim, não que divergir seja algo errado, as mudanças quando pautadas em uma essência duradoura é correspondente sempre de um senso de equilíbrio e racionalidade.

Por isso, esse cd apesar de ter rodado pouco nos meus mp3s da vida, merece um lugarzinho apertado por aqui. A figura da cantora solitária, angustiada e se referindo por muitas vezes ao amor como algo frio e distante, desaparece nas novas baladas.

A presença da filha já é explícita na primeira faixa, ‘Na Varanda da Liz’, composta por João Cavalcanti do Casuarina. A partir daí, o disco se enche de vida com a presença de versões de uma turma legal, como ‘Só Sei Dançar Com Você’ da Tulipa Raiz e ‘Mapa Mundi’ de Thiago Pethit. A banda acompanha Tié em todas as faixas, seguindo as participações especiais de gente como o gringo Jorge Drexler em ‘Perto e Distante’.

Aquele minimalismo tão reverenciado por mim, é deixado um pouco de lado com a presença constante do violão e do banjo, mas, o detalhismo ainda é marca registrada, nada de frescura, playbacks, samplers ou coisa do tipo, é música saída da alma, com pintadas corporais de sinceridade. Um disco mais solto, leve e aberto, explicitamente identificado com as nuâncias das mudanças em nosso dia-a-dia (Coloco dia-a-dia ainda com hífen, acho essa nova reforma ortográfica de muito mal gosto).

Tomara que essa mulher do caralho continue me surpreendo, afinal, por ela, até ‘Você Não Vale Nada’ eu finjo que não vejo.

01 - Na Varanda da Liz
02- Só Sei Dançar Com Você
03- Piscar o Olho
04- Perto e Distante
05- Pra Alegrar o Meu Dia
06- Já é Tarde
07- Mapa Mundi
08- For You And For Me
09- Hide And Seek
10- Você Não Vale Nada
11- Te Mereço

Link: http://www.*4shared.com*/file/nPW5pSG7/Ti_-_A_Coruja_E_O_Corao_2011.htm

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Discos da Minha Vida: Blur - Best Of [2000]

Nunca fui muito fã de compilações de sucessos, como discos Greatest Hits ou Best Of´s. Na verdade, são apenas aglomerados de singles feitos por gente desconhecida e de gosto duvidoso que é empurrado ‘guela à baixo’ dos fãs pelo mundo a fora. Também, por um motivo muito mais pessoal que qualquer coisa, é minha eterna admiração por aquilo que não demonstra muito interesse ou glamour, como torcer pela Hispania ou pela Minardi.

Aquela música lado-b, por muitas vezes esquecida, pode ser muito mais rica que um grande hit da banda executado nas rádios e ovacionado em todos os shows, por essas e outras, prefiro 'Half The World Away' do Oasis à 'Wonderwall'. Mas, com esse disco é diferente.

O Blur surgiu pra mim de forma quase indiscreta, invadindo meu imaginário impregnado por games e futebol ao inserir no Playstation 1, é, aquele, vocês que tem menos de 15 anos não devem conhece-lo mais, o CD de ‘Fifa 2002: World Cup’. Bastou o danado rodar, que 'Song 2' apareceu com força total, foi amor à primeira vista. Engraçado, que logo uma música que distorce um pouco da constância da banda, e parece mais um hardcore envenenado do que a sublime harmonia de Graham Coxon.

De qualquer forma, gostei. Apesar disso, passei um bom tempo sem nenhuma notícia daquela banda que me conquistou de forma invasiva e meteórica, os tempos eram outros, além de eu ser um fedelho, não havia banda larga. Encontrei esse Best Of meio empoeirado no centro da capital, e pensei: ‘a banda do jogo.’ É, era a banda do jogo, que me deixaria mais viciado que o próprio. Foi assim que a banda de Damon Albarn caiu na minha mão, nascida em Londres, em 1990, é considerada a mãe/pai do britpop. Em parte, concordo, sua importância na metade da década de 90 superava de lavada o Oasis, eterna rival.

Na verdade, sem o Blur, o Oasis talvez não tivesse nem nascido. Para os fãs da banda de Manchester, falar em Blur é falar no diabo. A coisa começou quando o Definitely Maybe foi lançado e assustou muita a gente, nascendo uma guerrinha na imprensa sobre: ‘Quem é melhor?’. Pois bem, tanto a EMI quanto a Flood adoraram a idéia e passaram a explorar o ‘conflito’ entre as duas bandas, quase um paredão do BBB. O cúmulo foi lançarem 'Country House', o novo single do Blur, no mesmo dia de 'Roll With It', o novo single do Oasis. O Blur levou a melhor, e o pau comeu.

Para mim, nunca ouve tamanha frescura. Contemplo as duas com a mesma intensidade, são duas pérolas do novo rock britânico e formaram parte da minha personalidade, que se já não era grande coisa, não passou a ser ridícula. Esse Best Of, lançado em 2000, comemora os até então completados 10 anos da banda, que não duraria muito, com a dissidência, já antiga, do guitarrista Graham Coxon com o resto da banda. Coxon, um refinado instrumentista, não admitia muito essa coisa da presença do eletrônico com o rap, que levou Albarn a se abraçar ao Gorillaz.

Enfim, por que esse disco é importante? Porque é uma rara coleção dos maiores singles de uma banda que já anda presente comigo a cerca de 9 anos, e 9 anos, é uns 40% da minha vida. Parabéns pro Blur, e parabéns, pra mim. Afinal, devo muito mais a eles, do que eles a mim.

Ah, entrei numa briga ferrenha comigo mesmo pra escolher um clipe e tacar aqui, talvez Parklife, talvez Coffe & TV, mas, falando sério, o mais legal é The Universal, Kubrick que o diga.

Beetlebum

Song 2

There's No Other Way

The Universal

Coffee & TV

Parklife

End of a Century

No Distance Left to Run

Tender

Girls & Boys

Charmless Man

She's So High

Country House

To the End

On Your Own

This Is a Low

For Tomorrow

Music Is My Radar (Inédita)

Link: http://www.*4shared*.com/file/R3_RWP-y/The_Best_of_Blur.htm


terça-feira, 24 de maio de 2011

Especial Nação Zumbi - Parte 3: Nação Zumbi - Nação Zumbi [2002]

Antes tarde do que nunca, fecho esse especial de 3 partes sobre a Nação Zumbi. O final não é cheio de nenhuma revelação, descobrimento do assassino ou morte do mocinho, é apenas um relato de como um grupo superou a perda do seu maior integrante.

Acredito, talvez inocentemente, não amparado por nenhum credo ou religião, que a morte seja um subsídio a transformação. Seja ela do corpo ou da alma. Tanto para quem morre, quanto para quem continua vivendo.

A relação mais conflituosa que o ser humano pode contemplar durante a vida, se diz respeito ao seu próprio fim, e o fim daqueles que ele mais ama. Mais do que perder um integrante, com o acidente a Nação perdeu um amigo. E isso pode ser o fim, para várias bandas. Em uma situação como essa, um grupo tem poucas opções, ou continua, remendando a perda, por mais irreparável que seja, ou acabando. Para a sorte minha e de algumas dezenas de manguebeatianos, a Nação resolveu continuar.

Para os vocais, foi promovido Jorge Du Peixe que usualmente tocava alfaia, e a banda, com uma nova formação, derivou o seu som. Em 2002, o disco ‘Nação Zumbi’ surge e revitaliza o som da maior banda do rock pernambucano, nele estão presentes as duas músicas mais queridas por mim após a fase Science: ‘Blunt of Judah’, revelando a voz distorcida de Du Peixe e ‘Meu Maracatu Pesa uma Tonelada’, a união mais fortificada entre os riffs de guitarra de Lúcio Maia e a pegada do maracatu, um ícone e referencial, sem dúvida.

O disco mantém a necessidade de letras com cunho social, político e cultural, de uma forma forte e consolidada, com a presença cada vez maior do eletrônico, que despontaria de forma ainda mais essencial no seu último disco, ‘Bossa Nostra.’

Assim, continuou o seu caminho um ícone do rock dos anos 90, e sua importância atingiu o nível internacional, cabendo até apresentação no ‘Later With Jool´s Holand’, uma espécie de Sabadão Sertanejo da BBC, só que com os maiores nomes da música mundial, onde gente como Oasis e James Blunt são figurinhas carimbadas, um orgulho, para a Nova Roma de Bravos Guerreiros. Mais importante do que com a continuação das atividades, foi o legado que essa gigante do rock nacional deixará, sempre sendo lembrada com uns dos pilares da nova música pernambucana.

  1. "Blunt Of Judah"
  2. "Mormaço"
  3. "Propaganda"
  4. "Amnesia Express"
  5. "Meu Maracatu pesa Uma Tonelada"
  6. "Faz Tempo"
  7. "Prato de Flores"
  8. "Know Now"
  9. "Ogan Di Belê"
  10. "Caldo de Cana"
  11. "O Fogo Anda Comigo"
  12. "Tempo Amarelo"

Link: http://www.*4shared.com*/file/VTs2slEX/Nao_Zumbi_-_2002_-_Nao_Zumbi.htm

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Especial Nação Zumbi - Parte 2: Chico Science & Nação Zumbi - Afrociberdelia [1996]

Continuando essa saga sobre alguns momentos da maior banda da música pernambucana, tão aguardada como: 'O Império Contra-Ataca', é a segunda parte desse especial.

Com a gravação de Da Lama Ao Caos, Chico Science & Nação Zumbi saíram do patamar de fudidos em ascensão, para se tornar fudidos no mainstream. Isso alavancou consideravelmente o olhar nacional acerca de Pernambuco.

O primeiro disco, instituiu de forma pulsante o Manguebeat por várias veias nacionais, impulsionando um pólo cultural em Recife que há vários anos já parecia ter sucumbindo a alguma paralisia.

Ao contrário do primeiro cd, Afrociberdelia representa um know-how acerca do som dessa galera, entenda que quando entraram no estúdio de Liminha, ninguém tinha uma noção muito adequada de como gravar aquela mistureba musical que aparecia aos olhos, foi tudo feito na base da intuição, da adequação, no improviso. O jeitinho deu certo, mas, não era sempre que se poderia arriscar daquela forma, não quando se tem objetivos maiores.

Para esse segundo cd, foi fundamental a presença do DJ Eduardo BID, que contribuiu no amadurecimento do som da turma, encontrando a melhor forma de influenciarem a própria condução da gravação.

Pois bem, o título de antemão já é sugestivo. Afrociberdelia representa a conjunção de 3 fatores essenciais na conjuntura da banda: Afro - música africana, basicamente com a contribuição do som de gente como Fela Kuti e Manu Dibanco; Ciber - a tecnologia e a cibernética como aliados nos processos de gravação e execução, a antena no meio da lama; Delia - o sufixo de psicodelia, a viagem musical por entre novos conceitos e sons, com nuâncias do rock progressivo inglês dos anos 60. Na voz do próprio Chico:
''Um amadurecimento da banda, das viagens que a gente teve, das músicas que a gente escutou, da preocupação que a gente veio tendo depois do lançamento de Da Lama Ao Caos. De escutar o disco, fazer os shows, ver o que pode melhorar no nosso som, como dar uma timbragem nova aos tambores. O que é que a gente pode melhorar em tudo, no geral. Realmente nós demos uma sofisticada no nosso som mesmo. É por isso que obtivemos esse resultado bem legal e bem consistente do Afrociberdelia.''

Essa originalidade pautou toda a condução e amadurecimento do som da banda, havia agora um sentido, um objetivo, uma carreira em consolidação, levando a bandeira pernambucana de volta ao grande cenário musical. A responsabilidade era grande, e eles tinha que ter ciência disso.

Infelizmente, Science não continuaria mais no projeto, em 1997, seu Fiat Mille encontrou um poste e a vida do maior músico pernambucano dos últimos 20 anos teve um trágico fim. Além de implacar 2 discos entre os 100 maiores da música brasileira, segundo a Rolling Stone, a família de Chico ainda recebeu a maior indenização paga por uma indústria automobilística no país, em 2007.

Como a Nação Zumbi seguiria sem seu líder, é o que a gente vai ver no próximo post.

Mateus Enter
O Cidadão do Mundo
Etnia
Quilombo Groove
Macô
Um Passeio no Mundo Livre
Samba do lado
Maracatu Atômico
O Encontro de Issac Asimov com Santos Dumont no Céu
Corpo de Lama
Sobremesa
Manguetown
Um Satélite na Cabeça
Baião Ambiental
Sangue de Bairro
Enquanto o Mundo Explode
Interlude Zumbi
Criança de Domingo
Amor de Muito
Samidarish
Maracatu Atômico (Atomic Version)
Maracatu Atômico (Ragga Mix)
Maracatu Atômico (Trip Hop)

Link: http://*www.4shared.com*/file/PgWLR64P/Chico_Science_e_Nacao_Zumbi_-_.htm

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Especial Nação Zumbi - Parte 1: Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos [1994]

Tentarei em 3 partes fazer alguns devaneios sobre o Manguebeat (ou bit). Não é uma tentativa exaustiva, nem uma pré-tese de mestrado acerca de porra nenhuma. Diria que é apenas uma conversa de bar, onde ponto a ponto tentarei mostrar 3 fases da maior banda da música pernambucana, se confundido com o próprio movimento.
Emergência! Um choque rápido, ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico pra saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruir as suas veias. O modo mais rápido também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paraliza os cidadãos? Como devolver o ânimo deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco da energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife. (Trecho do 'Manifesto dos Carangueijos Com Cérebro).

Recife, como uma grande capital, sempre enfrentou inúmeros problemas desde o industrialismo da sociedade brasileira a partir dos anos 60. O crescimento da população, a formação de um pólo industrial inversalmente proporcional a degradação do meio-ambiente, o crescimento dos subúrbios, das áreas marginais e da violência contribuíram para a formação do arquétipo de cidade violenta, fedida e intransitável.

Eu, apesar de amá-la, ainda sinto enorme dificuldade em projetar um futuro de crescimento econômico, igualdade, rios limpos e árvores em cada esquina. Não sei nem como, implementarão tantas melhorias à tempo de uma Copa do Mundo. Mas, é o que dizem, se os políticos dizem, por que não acreditar?

Pois bem, se hoje a coisa já é ruim, há 15 anos atrás era bem pior, além das deficiências geográficas e urbanísticas costumeiras, Recife ainda sofria com uma baixa produção cultural. Vê, era um saco ser jovem naquela época, principalmente se você tivesse uma necessidade em se interligar com algo inerente à sua cidade, ao que era 'da terra'. Havia forró, como sempre ouve, de gosto bom ou duvidoso, havia baião, e a coisa mais moderna que existia, era Alceu Valença. A minha geração que engatinhava e a dos meus pais, há muito tempo não estava integrado a uma produção cultural meio renascimento style, a coisa andava preta. E era hora de agir.

Foi aí que alguns jovens metidos a revoltadinhos instituíram um movimento. Esse movimento deixaria de lado a analogia de 'Veneza Pernambucana' e jogaria a comparação da capital como um mangue, mangue esse que sempre esteve presente em todo lugar, mas, que com a construção desenfreada, cada vez é mais escasso. O 'Manifesto dos Carangueijos Com Cérebro' foi o primeiro passo de uma revolução cultural na natimorta vida cultural da cidade. Se Recife era um corpo, suas veias andavam entupidas, e seu destino era um infarto, os mangueboys e manguegirls deveriam exorcizar esses males e construir sua própria cultura, bebendo em uma nova fonte.

A Chico Sciente e Nação Zumbi e o Mundo Livre S/A foram o braço musical desse movimento. A Nação nascia da união da Loustal, uma banda de pós-punk, com um bloco de reagge, chamado Lamento Negro. Os líderes, Chico Science e Fred Zero 04, autores do Manifesto, imprimiram a música pernambucana uma mistureba jamais vista. Havia baião, havia maracatu, côco-de-roda, Jackson do Pandeiro, um caldeirão de influências pernambucanas que iam de encontro a tradicionalidade já chata e enjoativa dos anos 80. A receptividade foi gigantesca, do bar de Rogê até os primeiros festivais, a banda lançou-se como a coisa mais inovadora que muita gente tinha ouvido, eu, nos meus 5 aninhos, não tinha ainda como entender o que se passava, mas, gente mais velha, dos 35 pra lá, sempre me disseram que foi do caralho, e realmente deve ter sido mesmo.

Com a explosão, Recife apontava como o cenário mais inovador do Brasil, e o olho de grandes gravadoras aumentou, despertando em especial o da Sony, de Liminha. Após começar a botar a cara da MTV, a turma foi chamada para o primeiro cd, produzido pelo próprio. O desafio era enorme, porque até então, ninguém nunca tinha gravado algo do gênero, não se tinha ainda muito idéia de como acoplar tantos bumbos e gêneros de percussão em um único formato. A chance de se tornar uma merda era, digamos, considerável. Lúcio Maia tacava riffs de guitarra pesados, o pessoal da percussão tocava maracatu, sem bateria, e sem pratos, o baixo soava a funk, que porra era aquela? Algo que realmente, só poderia sair daqui.

Aqui, o começo, no próximo, o apogeu.

01- Monólogo ao Pé de Ouvido
02- Banditismo Por Uma Questão de Classe
03- Rios, Pontes e Overdrives
04- A Cidade
05- A Praieira
06- Samba Makossa
07- Da Lama Ao Caos
08- Maracatu de Tiro Certeiro
09- Salustiano Song
10- Antene-se
11- Risoflora
12- Lixo do Mangue
13- Computadores Fazem Arte
14- Côco Dub (Afrociberdelia)

Link: http://www.4shared.com/file/Fs0EJlb2/Chico_Science__Nacao_Zumbi_-_D.htm

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Thiago Pethit - Berlim, Texas [2010]

Muitos, de forma errônea e estúpida, alegam que concorrem a um sonho de 'se tornar artista'. Esquecem, de forma evidente, que não se depende de nenhum ato para se tornar artista que não seja propriamente fazer arte. Não precisa-se adentrar a um BBB, nem aparecer na Caras, Contigo e o caralho a quatro, basta fazer arte.

Mas, muitos que tentam, falham, e não é porque não foram escalados para uma novela global, e sim, não conseguem serem artistas por não terem a arte dentro de si, seja ela qual for.

E eu estendo isso além-mar, chegando a música. Qualquer pessoa, repito, qualquer pessoa pode se tornar músico. Basta combinar harmonia, melodia e ritmo com alguma métrica minimamente alinhada, e há uma composição, há um objeto de um sujeito que pode ser considerado músico, e, consequentemente, artista. Por que toquei nesse ponto? Porque é necessário pra entender a carreira desse cabra aí.

Thiago Pethit, em uma forma bem peculiar, não tinha muito haver com música. Filho de atores de teatro, o palco sempre foi sua pedida, até meados da tenra idade dos 20 anos. Após cantar uma música da amiga Tiê (Tiê, aquela que eu acho uma mulher do caralho), despertou algum sentido para se inclinar para o lado musical. Meio que: '- é, até que não faço isso muito mal'. A partir desse momento, uma ida à Buenos Aires mudaria sua vinculação profissional. Para ele, a influência de Tiê foi determinante:
"Super importante porque com ela eu descobri um jeito de fazer música que tinha a ver comigo. Quando eu a conheci, ela estava começando o seu trabalho e já tinha uma coisa tão autoral, que me soava muito diferente do que vinha sendo feito, que eu acho que o meu insight, a minha identificação, foi uma coisa meio por aí. Ela foi fundamental. Ao mesmo tempo, ela foi uma pessoa que me empurrou um pouco pra começar a trabalhar com música. Ela acabou sendo a minha caixinha de pandora."

Chegando na terra de Maradona, estudou em um curso intensivo de música sobre tango, mesmo sendo ator e aluno de curso superior de Literatura. O ato despretensioso despertou o interesse, partindo para as primeiras composições, que ele classifica como sendo todas advindas do mero ato de 'bater os pés e as mãos'. É assim, senhoras e senhores, que nasce um músico.

A partir daí, a evolução foi rápida, voltando ao Brasil conseguiu formar 3 canções e partiu para a gravação do primeiro EP, em 2008, chamado de Em Outro Lugar. A boa receptividade entre a crítica o animou para dar um passo maior, passo esse que poderia ser bem maior que as pernas.

O projeto com Tiê já rolava, e juntado R$25.000,00, Thiago arriscou gravar esse cd que aparece aqui: Berlim Texas. Um pulo do gato. O álbum produzido por Yuri Kalil, o mesmo que tacou o dedo em Uhuuu do Cidadão Instigado trouxe uma forma consolidada e madura ao som que já existia. Não era mais brincadeira, a coisa tinha ficado séria, e as influências dos amigos, de Tow Waits, e da música francesa foram determinantes para um som melancólico, romântico e simples. Três palavras que me aliam diretamente ao que é emitido.

Eleito pelo The Guardian como uma das promessas do ano de 2011, fazendo referências a Leonard Cohen e Seirge Gansbourg, Thiago Pethit de uma família de atores entra determinantemente entre a nova safra da música brasileira, moderna, dinâmica, aliando o mainstream e o alternativo com a grande ajuda da internet.

01- Não Se Vá
02- Mapa-Mundí
03- Forasteiro
04- Sweet Funny Melody
05- Voix De Ville
06- Fuga Nº1
07- Outra Canção Triste
08- Birdhouse
09- Nightwalker
10- White Hat
11- Don´t Go Away

Link: http://www.*4shared.com*/file/QSCNwLks/Thiago_Pethit_-__2010__Berlim_.htm

terça-feira, 10 de maio de 2011

Marcelo Jeneci - Feito Pra Acabar [2010]

Considero que Marcelo Camelo foi o compositor mais influente da minha geração. Admito que seja minha geração, os anos idos de 2000 pra cá. Pelos motivos que já expus quando falei do disco 4, mesmo não sendo meu Hermano preferido, Camelo trouxe de volta o cuidado e o apego a métrica e a letra no rock nacional, carinho esse advindo do bom samba, coincidindo os dois ritmos, como em uma de suas primeiras músicas: 'Azedume.'

Nessa esteira, apresento por aqui o compositor, que após Camelo, vem me impressionando um bucado. Marcelo Jeneci é filho de pernambucanos, criado em São Paulo, no bairro de Guaianases. Eu nunca pus um pé no Sudeste, mas, o que escuto é que esse bairro é conhecido pela grande presença de nordestinos, gente que como Fabiano em Morte e Vida Severina, saiu do sertão procurando dias melhores, alanvancando a economia paulista e trazendo uma grande massa de votos para a maior zona eleitoral do Brasil.

Pois bem, crescendo em São Paulo, Jeneci logo sofreu uma grande empurrão do pai para aprender sanfona, já que o velho consertava acordeões. Mas, o sonho mesmo do papai era que ele se tornasse um músico clássico e virtuoso, e Marcelo logo seguiu para aprender piano, especificamente, jazz. Assim, cresceu impregnado pela música nordestina, tendo a sorte de ter em sua convivência, músicos consagrados como Dominguinhos, amigo do papai Jeneci.

De repente, uma boa chance apareceu, Chico César precisava de um sanfoneiro que entendesse um pouco de piano para acompanhá-lo urgentemente em uma turnê. Indicado pelo arcodeonista Toninho Ferragutti, Jeneci apareceu, fez um teste, e agradou.

A partir daí, começava a saga desse paulista pernambucano acompanhando gente como Arnaldo Antunes e Vanessa da Mata. Com Vanessa, testou pela primeira vez a arte de composição, a presenteando com 'Amado'. Um hit, que adentrou perante a Som Livre e foi parar como tema de novela global. Com uma boa credencial dessas, não tão importante para a crítica e sim para o público, o caminho começava a ser traçado.

Fundamental para a consolidação da maneira de compor de Jeneci, reconhecido pelo próprio, foi a parceria durante um bom tempo com Fernando Catatau no Cidadão Instigado. Catatau, sempre fã de baladas melosas aliadas ao brega nordestino, despertou em Marcelo o requinte por essa forma de compor sobre amor, que se não é a mais popular, reconheço que seja a mais bela. E assim, chegamos ao seu disco de estréia, Feito pra Acabar. Pra mim, já é uma pérola. Alia-se o multi-instrumentalismo de Jeneci com o guitar hero Edgar Scandurra, Curumim e Laura Liviere, dividindo alguns vocais.

Diante da nova produção nacional, talvez seja o mais requintado dos últimos anos, é bom ficar de olho nesse malandro, que o bicho promete. Nas palavras de um sábio em compor com o piano, Guilerme Arantes: "Acho que a carreira dele será brilhante. O Jeneci faz parte de uma geração que vai representar a vitória de tudo aquilo em que eu acreditava quando comecei - o lirismo, a linguagem doce do piano. Ele será meu parceiro no futuro, com certeza".

01- Felicidade
02- Jardim do Éden
03- Café Com Leite de Rosas
04- Quarto de Dormir
05- Pra Sonhar
06- Por que Nós?
07- Dar-Te-Ei
08- Longe
09- Tempestade
10- Show de Estrelas
11- Pense Duas Vezes Antes de Esquecer
12- Feito pra Acabar

Link: http://www.*4shared.com*/file/9IBaXNH0/DNA_Marcelo_Jeneci__2010_-_Fei.htm

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Chico Buarque - Construção [1971]

O maior compositor da música brasileira. Sim, ele é. O refinamento entre as letras e a fidelidade à bossa ao longo de uma carreira que beira os 50 anos é sensacional. Demorou pra aparecer por aqui, mas, posso dizer que aparece em grande estilo.

Francisco Buarque de Holanda é filho de Sérgio Buarque de Holanda, um dos maiores sociólogos do país. Esse passaporte para a vida foi essencial para a configuração da personalidade de Chico. Logo adolescente, herdou de seu pai uma rica amizade com Tom Jobim, maestro e compositor da eminente bossa nova, a partir daí, começava a brincadeira.

Naquela época, final dos anos 50, era interessante para todo jovem se formar em arquitetura, era até cool, devido ao crescimento vertiginoso do país após o Governo Kubitsheck e as grandes e megalomaníacas obras estarem em pauta. Brasília era o reflexo disso, todos queriam que seu filho fosse o novo Neymeyer. O pobre Chiquinho até tentou, mas, viu que aquela coisa de números e idéias não eram muito com ele, ele começava a despertar o interesse por outras áreas, entre elas, a música e a boemia. Andando com Jobim, conheceu um cara determinante para a vida que construiria, um tal de Vinicíus de Moraes.

Outra grande mente pensante brasileira, Vinícius foi diplomata. Diplomata, pra mim, é sinônimo de sabedoria. Para entrar no Instituto Rio Branco, o concurso mais difícil do país e se tornar um, é necessário amplo (muito amplo) conhecimento em sociologia, história, geografia e língua portuguesa. Ou seja, você precisa entender o país, seu povo, sua história e sua vida. Uma conjuntura que, digamos, não é avantajada no brasileiro, tanto quanto o latino-americano em geral. Com Vinicíus, Chico tomou idéia sobre a realidade em que vivia, e praticamente, aprendeu a compor. Esses conjunto de forças aqui e acolá começaram a moldar a personalidade do garoto, que decidiu chutar arquitetura e decidir: vou ser músico.

E é por essas e outras que chego em 'Construção'. Construção é seu 11º disco e um divisor de águas para ele, um clássico da música brasileira. Aqui há samba, há bossa, mas há um fator determinante nas composições de Chico a partir dos anos 70: a política. Se antes, por alguma forma, permanecia disfarçado, aqui aparece explícito. Se seu pai, ao estabelecer a teoria do homem cordial, criou uma análise profunda e enraizada do povo brasileiro, era direito que seu que continuasse a fazer isso por meio de versos. E é assim que ele trás a vida brasileira em meio a um governo ditatoria para dentro do samba.

Um povo batalhador, rotineiro, envolto a pressão de se calar perante um regime e arrumar o pão de cada dia. Ainda tendo que amar, beber, ver futebol e achar tudo bonito. 'Por esse pão pra comer, por esse pão pra dormir, por me deixar respirar, por me deixar existir.' Tudo parece uma concessão estatal, a vida em si, é uma permissão da sociedade, o lema: ame-o ou deixo-o é explícito e feroz, por muitas vezes alienante. Se 'Raízes do Brasil' tornou-se essencial para entender a sociedade brasileira, também o faz Construção, um disco clássico e também clichê na produção cultural brasileira, extremamente necessário para se entender o brasileiro, determinante para configurar um povo lutador, operário e sofrido. Seja na década de 70, seja hoje.

01 - Deus Lhe Pague
02 - Cotidiano
03 - Desalento
04 - Construção
05 - Cordão
06 - Olha Maria
07 - Samba de Orly
08 - Valsinha
09 - Minha História
10 - Acalanto

Link: http://www.*4shared.com*/file/4h3JuFdV/1971_-_Construo_-_Chico_Buarqu.htm

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Volver - Acima da Chuva [2008]

Bairrista como eu sou, bandas Pernambucanas deveriam aparecer bem mais por aqui. Essa obrigação é deveramente um pé-no-saco, mas, acho que de vez em quando posso alcançar essa virtude. Primeiramente, esse lugar deveria ser mesmo da Volver.

A Volver é recifense, parte gravataense (obrigado a parte que me toca: beijo mãe) e paulista por domicílio. De todos esses expoentes que apareceram pós-anos 2000 por aqui, é a que mais me agrada. Não pela simples ligação local, mas, muito mais pelo som que emite.

Prezar-se as raízes é ótimo, ter orgulho cultural e manter suas tradições também. Mas, como qualquer extremismo, não diversificar e alargar esse arcabouço é burrice. E é isso que acontece com grande frequência pelos lados da capital. A tentativa desenfreada de reviver o Manguebeat a cada passo dado por um grupo musical se torna estúpido porque é demasiadamente forçado.

E essa rotina, bem poderia ser copiada por Bruno Souto, mas, não foi. Não foi porque as influências vinheram de cantos mais longínquos e de fontes bem mais profundas, com o rock britânico, ilustrado claramente pelos Beatles. Nas palavras do próprio Bruno, o surgimento da brincadeira:

'O início da banda foi em 2003, se não me engano. Não exatamente começou, tinha o lance da idéia da banda: “Vamos fazer uma banda!”, isso em janeiro ou fevereiro de 2003. Eu tinha uma banda, pois comecei a gostar de tocar mesmo com os meus 14 anos. Minha pelada era isso. Deixei um pouco de passar o dia jogando futebol na rua e passei a ir muito aos estúdios para ensaiar mesmo. Não tinha nada de autoral, era só covers. A gente gostava do filme “Backbeat – Os cinco rapazes de Liverpool”. No dia que a gente viu, enlouqueceu. Ai, depois, ficamos ensaiando Green Day, Offspring, anos 90 e tal. Mas isso só na brincadeira. Daí teve uma época que começamos a fazer música autoral, só que um lance mais groove, mais funk e soul. Era algo mais coletivo. Só que eu sempre curti Jovem Guarda, Beatles, e ai quis fazer uma banda que tivesse essas influências. Foi quando eu chamei um amigo meu, Diógenes, o primeiro guitarrista da banda. E ficamos nessa vontade. A primeira música que eu fiz foi “Lucy” (do primeiro álbum, “Canções Perdidas Num Canto Qualquer”, de 2005). Está até na demo da banda.'

Nessa toada, apresento por aqui o segundo cd da banda, Acima da Chuva lançado em 2008, o preferido em relação ao Canções Perdidas num Canto Qualquer. É um disco de afirmação, de estruturação musical. Nele, os traços da banda começam a se desenhar muito mais de forma própria do que uma tentativa revival de estabelecer certos conceitos estrangeiros.E, ficou bom, muito bom. Bruno assume as composições do disco e acerta palmo a palmo, assumindo canções livres com pitadas de baladas românticas. Tudo certo, bem conceitual, aliada as guitarras de Kléber Croccia levaram os caras ao âmbito nacional.

A partir daí, após o Abril pro Rock 2009, a indústria e o mercado pernambucano ficaram pequenos, levando a ida à São Paulo. Sabe como é, gravadoras aqui, acolá, shows, aqui, acolá, tudo é mais perto, cômodo e a grana é maior. Mainstream e cosmopolitização andam de mãos dadas. Enquanto espero o terceiro cd dessa turma, apreciem o segundo. Que a coisa é boa.

1- Pra Deus Implorar
2- Dispenso
3- A Sorte
4- Não Sei Dançar
5- Natural
6- Tão Longe, Tão Perto
7- Acima da Chuva
8- Dia Azul
9- Coração Atonal
10- Clarice
11- Despedida em Seis por Oito

Link: http://www.*4shared*.com/file/ufNPi8pb/Volver_-_Acima_da_Chuva_-_2008.htm

terça-feira, 3 de maio de 2011

Dado Villa Lobos - MTV Apresenta: Dado Villa Lobos e o Jardim de Cactus [2005]

Dia 14 de maio desembarca em Caruaru, tomara que com muito menos chuva, uma lenda viva do rock nacional brasileiro. Dado Villa Lobos hoje tem 45 anos, com idade pra ser meu pai, chega aqui em uma turnê com Tony Platão, em homenagem a Legião Urbana. Banda em que foi guitarrista de 1983 até seu fim. Dica para os organizadores do show, é bom ter sempre um chocolate na mão, que o cara é diabético.

Na verdade, é aquela velha tentativa de entoar clássicos para os fãs e angarear recursos com isso, o que eu, em plena consciência, ajudarei. Acho um puta desperdício, entre outras razões, porque o considero um músico e instrumentalista inteligente, que poderia iniciar uma bela carreira solo, ao invés de se enfurnar nesses projetos de gravadora. Mas, quem sou eu pra criticar uma carreira alheia, hein?

Dado é sobrinho-neto de Heitor Villa Lobos, o maior compositor clássico brasileiro da história. Vindo de uma família de aristocratas, nasceu em Bruxelas na Bélgica, com certidão de nascimento de Eduardo Dutra Villa Lobos. Com parte da família de diplomatas, veio morar em Brasília. Brasília é hoje reverenciada como berço de todo uma geração do rock nacional, praticamente todas as bandas que de lá saíram naquela época fizeram algum tipo de sucesso, dos Paralamas do Sucesso, a mais consolidada, como a Plebe Rude, a mais esquecida. Ou seja, se você tinha 18 anos em meados dos anos 80, era cool ser do Distrito Federal. Por que era, eu não tenho muita idéia, semprei achei uma cidade marcada pelo cinza e pela sem gracice, uma planície que é sinônimo de escândalo e domícilio atual do Tiririca.

Deixando o bairrismo de lado, a grande produção cultural da sexagenária capital é sem dúvida, o rock dos anos 80. A banda estopim do movimento era o Aborto Elétrico, liderado por Renato Russo, Ico Ouro Preto, Flávio e Fê Lemos. A primata que daria origem a Legião Urbana e ao Capital Inicial. Com a saída de Russo, em meados de 1981, levaria Ico Ouro Preto com ele para formar um novo grupo, junto com Marcelo Bonfá. Era o embrião da Legião Urbana. Quando restou recém-assinada com a EMI para lançar o primeiro LP, Ico pulou fora, e aparecia Dado para formar o quarteto com Renato Rocha 'Neguete' e traduzir para todo um país o fenômeno que acontecia em terras planaltinas já há um bom tempo. Na década de 90, tacou Renato Russo:

"O Dado estava tocando com o Dado e o Reino Animal, mas ele não sabia tocar guitarra direito. Não sabia mesmo. Ele teve de aprender a tocar guitarra para tocar com a Legião. Em duas semanas, ele aprendeu a tocar nove músicas. No primeiro show, a gente tocou Ainda é cedo, e ele praticamente nunca tinha visto uma guitarra. A gente ficava: “Faz barulhinho”. Daí é que saiu o solo.''

Mas, chega de Legião Urbana. O projeto que acho mais legal na carreira desse guitarrista é sem dúvida seu único disco solo: MTV Apresenta - Dado Villa Lobos e Jardim de Cactus. Um CD quase experimental na vida desse belga-brasileiro, onde a voz aparece e as composições próprias também. Não o vejo com a capacidade de um hitmaker como Frejat, mas, é um trabalho de boa qualidade. Longe de ser o desastre do disco solo de estréia de Marcelo Bonfá, o qual eu acho de extrema infelicidade, Dado aparece com estilo, saindo da sombra de um dos maiores e mais adorados músicos do rock brasileiro.

Para alguém com a personalidade discreta, talvez seja preferível continuar pelas sombras relembrando antigos sucessos, mas longe de uma comparação exata, talvez fosse a hora de deslanchar um lado George Harrison de ser, soltando as amarras de andar ao lado de uma grande figura. Para muitos isso é extremamente sufocante, pra alguém que rejeita os holofotes como eu, é deveramente compreensível.

01- Dois Ouvidos
02- Jardim de Cactus
03- Diamante
04- Dias
05- Cores em Mim
06- Como Te Gusta
07- Luz e Mistério
08- Quase Nada
09- Natureza
10- Nos Lençóis
11- Laufunk
12- Faveloura & Lov
13- The Guns of Brixton
14- Conexão Amazônica

Link: http://www.*4shared.com*/file/CeTdMV70/Dado_Villa-Lobos_-_2005_-_MTV_.htm