sexta-feira, 29 de julho de 2011

Engenheiros do Hawaii - Tchau Radar! [1999]

Karl Marx disse uma vez em 'O Capital' que tudo que é sólido desmancha no ar. Essa simples frase procurava explicar a sua própria teoria sobre o materialismo histórico.

Marx considerava que toda sociedade é fruto do seu modo de produção, portanto, a mudança deste também traz em consequência a alteração da própria sociedade. Por isso, quando o modelo comunista ruiu em plena União Soviética, arrastou consigo todo um bloco que vivia escondido por detrás de uma cortina vermelha.

De toda forma, somos assim também, o modo como vivemos a vida é bastante influenciado pela forma com a qual nós enxergamos ela. A partir do momento que alteramos nossa visão sobre determinado fato, agimos diferente em relação a ele, e, por consequência, somos levados a ter nosssa vivênciaparcialmente ou totalmente alterada. Foi, nessa mesma situação, que os Engenheiros do Hawaii chegaram a metade dos anos 90.

Augusto Licks, célebre guitarrista da banda, conhecido pela sua pegada clássica, deixaria o barco em 1993. O Trio entoado por cada fã como o melhor do rock brasileiro, composto por Gessinger, Licks e Maltz estaria desfeito. Restava, encontrar outro membro à altura, foi nomeado para o cargo Ricardo Horn, amigo de Humberto com formação em jazz e blues. Também se aliaria ao grupo Fernando Deluque (é, ele mesmo, o amiguinho de Paulo Ricardo) e Paolo Casarin. Os mesmos permaneceriam até 1997, saíriam junto com Carlos Maltz.

Cada vez mais, as transformações na formação só evidenciavam o gessingertrismo que os Engenheiros do Hawaii se tornariam, se ele era o melhor músico da banda, a partir de agora, seria a banda.

Junto com Luciano Granja, Adal Fonseca e Lúcio Dorfman, é lançado Tchau Radar!, em 1999, o décimo segundo álbum da banda. Desta vez, solto para compor como quisesse, Humberto se torna expresso, claro e conciso ao tratar de vários temas como o amor, a despedida, a sociedade e sempre balbuciar sobre filosofia.

De cara, uma das canções mais expressivas sobre amor que já compôs: 'Eu que não amo você.' Um sujeito abandonado e esgarniçado pela própria parceira, se vê em uma relação de amor e ódio durante longos meses enquanto tenta superar a dor de sua partida e conjurar a imagem que para seguir em frente era preciso murmurar: 'Eu que não fumo, queria um cigarro, eu que não amo você.'

Em seguida, uma das melhores versões de músicas do Dylan que já escutei, 'It´s All Over Now Baby Blue' vira 'Negro Amor' pelos dedos de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti. Continuando chegamos a 'Concreto e Asfalto' onde Gessinger dispara a necessidade de se auto-conhecer e de se aceitar antes de cada passo, porque lutar contra si mesmo de forma destrutiva e ilusória, é uma piada: 'se eu fosse um cara diferente, sabe lá o que eu seria?'.

'Até Mais' é um doloroso ensinamento sobre a despedida, como é difícil deixar pra lá algo sabendo que será permanente: 'diga até mais, mesmo se for adeus.' 'Nada é Fácil' é uma das mais realistas crônicas desse monstro do rock brasileiro, a sabedoria da existência de obstáculos em tudo na vida, e a necessidade de se deixar um mundo ideal de lado a procura da própria felicidade: 'reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz, que o crime não compensa e que tudo conspira a favor.' Pra não tornar isso aqui uma epopéia, fecho com a belíssima '3x4', canção que Gessinger escreveu para a esposa, Adriana Sesti, afinal, é sempre ótimo homenagear sua amada com belas frases.

Um disco que pôs os Engenheiros do Hawaii novamente em rota, e selou a Humberto dependência da banda, o modo produtivo estaria alterado, para dar lugar a novas composições. Meu disco preferido pós-Licks e Maltz.

01- Eu que Não Amo Você
02- Negro Amor
03- Concreto & Asfalto
04- Até Mais
05- Nada Fácil
06- O Olho do Furacão
07- Seguir Viagem
08- 10.000 Destinos
09- Na Real
10- 3x4
11- Melhor Assim
12- Cruzada
Link: http://www.*4shared.com*/file/peRkCu7a/Engenheiros_do_Hawaii_-_1999_-.htm

terça-feira, 26 de julho de 2011

Ira! - Vivendo e Não Aprendendo [1986]

Minha banda paulista predileta. E o Ultraje, diria alguns? O Ultraje é de Marte, não deve competir com meros Terráqueos. Durante muito tempo, passei a desenvolver a consciência da necessidade de uma certa sapiência sobre a vida, aquela coisa de ter noção que um bucado de coisa está além de sua compreensão, e que decisões durante a sua vida são muito, muito difíceis.

Uma hora você é um filho, um dia será um pai, quem sabe um avô. De estagiário será um profissional, um chefe, um diretor, um presidente. De ficante será namorado, marido. Ou, como Deus joga dados, você poderá sair do nada para a porra nenhuma, sem nem ter notado, e o curso nunca terá seguido. A vida não é um rio, nem um castelo de cartas marcadas, ela se bifurca e assume várias definições, basta você descobrir qual curso é mais adequado ao seu coração.

Se existe uma banda na música brasileira que transforma essas preocupações em canções, é o Ira! (é, com exclamação, diferentemente do exército revolucionário irlandês). Em 1986, O Ira! lançou Vivendo e Não Aprendendo. Seu segundo disco tem uma maturidade e uma visão ampla sobre temas recorrentes a qualquer cidadão de meia-tigela que supera várias bandas da mesma época, era e é rock de gente grande.

Crescer com um disco desse ao lado, é algo que lhe marca por toda a vida, sua acepção te dá formas novas de olhar sobre diversos aspectos dessa existência chechelenta. Ou seja, se eu conseguir afastar Luan Santana, NX Zero e Restart dos ouvidos do meu filho, e ele ouvir 'Quinze Anos', será um homem. Simples assim.

O Ira! nasceu em 1981, em São Paulo. Edgard Scandurra (o maior guitarrista de sua geração) tinha uma banda punk onde entoava coisas do Led Zepellin, irônicou ou não, é quase um Jimmi Page brasileiro. A banda se chamava Subúrbio. Conheceu Nasi, o Marcos Valadão Rodolfo no Colégio Brasílio Machado. Nasi entraria para a banda, e 'Pobre Paulista' começaria a tocar pra caramba em São Paulo na década de 80. O serviço de Scandurra no exército, deu ao rock nacional a criação do Ira! e a composição de 'Núcleo Base'.

A primeira faixa desse disco, já é um sensacional cartão de visitas. 'Envelheço na Cidade' é uma comprovação da ligação do homem contemporâneo com o caos urbano onde vive. Aqui, onde os anos passam quase desapercebidos, sua vida se constrói e você, cara pálida, nem nota. 'Dias de Luta' contém um dos versos mais bonitos que já ouvi: se meu filho não nasceu, eu ainda sou o filho, quase uma Father And Son recriada por Edgard Scandurra.

O constante auto-conhecimento presente nessas faixas, desemboca em 'Quinze Anos', uma nostálgica e bela composição sobre um homem revivendo seu passado. A máscara tão bem cultivada parece muito frágil diante da finitude da vida. As lembranças, os amores, as amizades, tudo parece uma lembrança antiga que permeeou a vida daquele que apesar de ter vivido, parece não ter aprendido.

'Flores em Você', o grande hit desse disco, foi tema de novela global, o que vocês devem imaginar o quanto elevou essa turma no mercado industrial, coisa que diminuiu bastante depois que o Ira! se recusou a tocar o playback da própria no Globo de Ouro da Vênus Platinada.

No ano de 1986 foi lançado grandes discos: Dois da Legião Urbana, Cabeça Dinossauro dos Titãs e Selvagem dos Paralamas do Sucesso. Eu, em minha modesta e inocente opinião, considero esse o maior lançamento do ano. Mas, não vão na minha, afinal, continuo vivendo e não aprendendo.

01- Envelheço na Cidade
02- Casa de Papel
03- Dias de Luta
04- Tanto Quanto Eu
05- Vitrine Viva
06- Flores Em Você
07- Quinze Anos
08- Nas Ruas
09- Gritos na Multidão
10- Pobre Paulista

Link: http://www.*megaupload.com*/?d=C0Q6CMND


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Raul Seixas - Gita [1974]

Após ter visto seus sogros, companheiros, e todos os seus parentes situados no posto dos dois exércitos, Arjuna ficou com grande compaixão e pesar, dizendo as seguintes palavras: Ó Krishna, vendo meus parentes, fixos com o desejo de lutar, meus membros tremem, minha boca começa a secar. Meu corpo estremece e meus cabelos se arrepiam. (1.27-29)

Arjuna, princípe de seu reino, enfrenta um grande dilema quando presencia no campo de batalha seus parentes e amigos mais próximos entre aqueles dispostos a usurpar o seu trono. Desnorteado, pede ajuda a Krishna, o profeta do Hinduísmo, para que explique e o ilumine perante essa decisão.

Krishna explica que a única forma de superar essa situação, seria confiar em seus ensinamentos e enfrentar as pessoas que mais amava, como única forma de manutenção do seu trono e de sua própria vida. A parábola presente no Bhagavad Gita, o livro mais importante da religião Vaishnava, contém um dos ensinamentos mais essenciais da filosofia oriental: a auto-realização.

Perante ela, o homem para tornar-se livre e pleno precisa ter conhecimento de si próprio, olhar para dentro de si e compreender a necessidade em livrar do seu Eu os males que o Ego pode trazer. Desta forma, assim como Arjuna abraçaria Krishna e lutaria contra as pessoas que mais amava, o homem deveria lutar contra si próprio para alcançar a libertação e se transformar no super-homem (aquele invocado por Nietzsche em 'Assim falou Zaratustra', milhares de anos depois).

Sem dúvida, apesar de eu não ter ligação com nenhuma religião, reconheço a belíssima literatura presente em alguns textos. Com certeza, Gita sem preconceito de nenhum tipo, pode ser lido por qualquer pessoa que queira compreender o fenônemo do auto-conhecimento. Algumas coisas nos fortalecem o corpo, outras, o espírito.

Imerso nessa riqueza de espiritualidade, Raul Seixas compôs ao lado de Paulo Coelho, a canção mais admirada de sua vasta discografia: 'Gita'. O refrão, tão adorado por nós, é apenas uma reprodução do capítulo em que Krishna explica a Arjuna a necessidade de acreditar nele, porque ele era o 'Tudo e O Nada'.

Raul, após abandonar as primeiras infuências de Elvis Presley e do rock americano dos anos 50, passou a misturar filosofia oriental, bruxaria e paganismo em seu som. De Raulzito, viraria Maluco Beleza, algo totalmente natural na evolução da personalidade de todo mundo, cada um deve procurar aquilo que lhe torne mais próximo de sua essência. O maior roqueiro do Brasil, é também um dos preferidos de alguém que amo consideravelmente, sua presença aqui além de totalmente justificável, era uma obrigação.

Gita elevou Raul a uma profundidade letrística única no rock brasileiro, ninguém por aqui tinha muita idéia de como se faza isso, todo mundo admirava o que Dylan fazia, com aquela cara de: 'Porra, eu queria saber fazer isso'. Mas, Raul fez como ele, e fez divinamente. Lançado em 1974, foi seu terceiro álbum e o mais vendido.

Além do Bhavagad Gita, Raul extremamente influenciado pela amizade com Paulo Coelho, introduziria parte da filosofia do bruxo Aleister Crowley em 'Sociedade Alternativa', um alquimista que queria construir uma sociedade baseada numa máxima de libertação, onde tudo se resumiria em uma única lei: todo mundo é uma estrela, faz o que tu queres, há de ser tudo da lei.

As influências alquimistas e religiosas de Raul podem ficar para um próximo post, é uma ótima pedida para um especial. O disco ainda se perfaz com as belíssimas 'Medo da Chuva' (minha preferida em toda discografia Seixiana) e o 'Trem das Sete'. Um disco único, pra mim um dos maiores de toda a música brasileira, que levou Raul Seixas ao exílio e a eternidade no coração de muitos brasileiros.

Toca Raul!

01- Super Heróis
02- Medo da Chuva
03- As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor
04- Água Viva
05- Moleque Maravilhoso
06- Sessão das 10
07- Sociedade Alternativa
08- O Trem das Sete
09- SOS
10- Prelúdio
11- Loteria da Babilônia

Link: http://www.*4shared*.com/file/rM3nFMhH/raul_seixas_-__1974__gita.htm

terça-feira, 19 de julho de 2011

Capital Inicial - Acústico MTV [2000]

Ops, voltei. Perdido entre os últimos dias da OAB, acabei deixando de lado os amados discos. Na verdade, era só uma questão de tempo, até voltarem pros meus braços.

Espólio do Aborto Elétrico, o Capital talvez seja a banda mais Brasiliana de todas, com direito a DVD Ao Vivo em frente a Esplanada dos Ministérios. Seu surgimento se enrola com o próprio aparecimento do rock brasileiro dos anos 80 como assim hoje conhecemos. O Aborto era uma banda punk local, idealizada por Renato Russo e os irmãos Lemos. A partir de 82, Renato dá a louca a partir da morte de John Lennon e decide sair da banda. Foi assim que um cabeludo, cheios de gírias, filho de diplomata é indicado para os vocais, era Fernando Ouro Preto.

Dinho era baterista de Dado Villa-Lobos, na Dado e o Reino Animal (na verdade, escrevia-se em letras minúsculas). O Capital por vários anos na década de 80, encarou o manto da incerteza, foram os últimos de Brasília a estourarem, os últimos a gravarem. Era aquela coisa de ver todo mundo conseguindo as coisas e você ficando pra trás. De toda forma, você além de não conseguir disfarçar sua insatisfação, começava a duvidar de sua própria capacidade.

Finalmente, em 1986, quando a Legião Urbana já explodia com Dois, o Capital lança seu primeiro cd, intitulado com o próprio nome da banda. A partir daí, a banda entrava de vez no rol das mais ouvidas do país, e o sucesso perduraria até 1993. Esse ano, Dinho Ouro Preto (além de Bozzo Baretti), saía pela porta da frente. Uma decisão difícil e de drásticas consequências para ambos os lados. Para a banda, que colocaria o ex- Rúcula Murilo Lima nos vocais, havia a sensação de um imenso vazio, que por mais que Murilo tentasse, não conseguiria preencher. O disco Rua 47, lançado em 1995, foi um fiasco.

Já Dinho, perdia-se completamente sem fazer música. Confessado pelo próprio que o uso cada vez mais constante de drogas naquela época, o definhou e quase o levou à morte. Eram tempos negros, em que a velha imagem de todos de fraque dançando no clipe de 'Música Urbana' parecia tão distante, quanto irreal. Para a sorte de todos, a Polygram lançou um Best Of, muito bem recebido pela crítica em 1998. A turma antiga matava saudade de coisas como 'Independência' e 'Veraneio Vascaína', já os mais novos, resgatavam discos há muito tempo encostados em alguma dispensa pelos pais. Era o renascimento.

O Acústico MTV seria apenas a confirmação disso. Assim como não tenho muita preferência por Best Ofs, também não sou apaixonado por discos ao vivo. Entretanto, esse disco vai além de uma mera apresentação. Tem um significado de fênix, de ressurgimento, não aquela coisa fajuta que o RPM lança há cada 5 anos quando Paulo Ricardo tem alguma briguinha e fica de mal com o resto da turma. Tem gosto de saída do fundo do poço, tem gosto de vida, Dinho que o diga. É esses ensinamentos que a gente tem que levar pra essa merda de vida.

Lançado em 2000, o acústico traz Zélia Duncan e o one-hit man Kiko Zambianchi, alcançando um sucesso estrondoso. Entre as faixas, releituras de músicas antigas do grupo e versões do Aborto Elétrico, que ficaram de presente após a saída de Renato. Um disco que me mostrou uma das melhores coisas que os anos 80 tinham deixado para trás, e que mostra que enquanto estivermos vivos, sempre teremos a chance de consertar o que parece destruído, renová-lo e utilizar para nossa nova vida. Com vocês, Capital Inicial.

01- O Passageiro
02- O Mundo
03- Todas As Noites
04- Tudo Que Vai
05- Independência
06- Leve Desespero
07- Eu Vou Estar
08- Primeiros Erros
09- Cai A Noite
10- Natasha
11- Fogo
12- Fátima
13- Veraneio Vascaína
14- Música Urbana

Link: http://www.*fileserve*.com/file/H3QpVwB




terça-feira, 12 de julho de 2011

James Blunt - Some Kind Of Trouble [2010]

O Leoni britânico. Após o sucesso estrondoso de Back To Bedlam, Blunt lançou em 2007 seu segundo cd, intitulado All The Lost Souls. Um disco com composições mais sérias e pesadas, que embalou temas de amor nas novelas pela Globo afora.

A música é sobretudo, uma produção cultural individual que acaba ultrapassando limites e alcançando uma coletividade. Discos representam pra mim mais do que um punhado de faixas se exercitando durante 40 a 50 min, são como seres que repassam e refletem a carga por trás de composições pra minha vida e pra muita gente nesse planeta água.

Por ter essa ligação tão forte com coisas que outros compõem, com violões, pianos, guitarras e doses de whisky, é que a minha vida pode seguir do jeito que segue. Afinal, como diria o pernambucano Chinaman, eu sou aquilo que consumo.

A partir do segundo disco, Blunt percebeu a inócua relação que se cria entre uma artista e seu hit ao passar dos anos, 'You´re Beautiful' tocou nas rádios, da Guiana Francesa a Madagascar. Não que não fosse uma ótima composição, claro que era, mas, com os anos precisamos deixar pra trás coisas que nos aconteceram pra poder criar outras melhores ainda, senão iguais as que se foram, pelo menos mais sinceras e diferentes. Nessa toada, ficou imprescindível repaginar o seu som, surgindo esse terceiro disco, lançado no ano passado, intitulado Some Kind Of Trouble.

Dessa vez, o inglês traz uma sonoridade otimista e prediposta em seus versos, mesmo com canções que titubeiam entre momentos bons e ruins de uma relação, por detrás de cada faixa há sempre uma mensagem de que as coisas vão dar certo, aquela coisa da fé que me faz otimista demais que Roberto Carlos tanto fala há tanto tempo. Nas palavras do próprio:

'Tem uma certa inocência que meu último álbum não tinha. Ele não se parece com o atual electro pop, parece com o som do final da década de 70, início dos anos 80, quando as bandas americanas foram para o Reino Unido. O que eu realmente gosto sobre isso é sua energia e otimismo - é completamente positivo.'

A canção mais grudenta do cd é realmente a primeira faixa 'Stay The Night', uma balada que cita Bob Marley, Billie Jean e pode ser cantada em qualquer luau à beira mar possível. 'These Are The Words' é doce como qualquer canção pop, enquanto 'So Far Gone' (a mais bela) e 'If Time Is All I have' falam sobre perda da maneira mais cheia de compostura possível, tornando explícita a necessidade de seguir em frente. O piano tão utilizado nos primeiros cds não fica de fora, aparecendo bem elaborado em 'No Tears'.

É assim que Blunt esquece parte de 'You´re Beautiful' e assume nova forma, como todo artista consciente do meio industrial deve fazer. Por mais que goste de um grande hit, sabe que no fundo ela é apenas peça de algum karaokê barato na Indonésia.

É assim que para mim, sempre há espaço pra descobertas que te trazem coisas ótimas e lhe deixam em um estado que você não imaginaria estar. Descobertas que vem de um lugar muito próximo, seja de dentro de você, ou de lugares ao seu lado, onde sempre estiveram esperando. Como diria Mosby: 'só vimos o que queremos ver, quando estamos preparados para vê-lo.' Assim como Blunt em Some Kind Of Trouble, meu presente dá ao meu futuro imagens cada vez mais positivas.

01- Stay The Night
02- Dangerous
03- Best Laid Plans
04- So Far Gone
05- No Tears
06- Superstar
07- These Are The Words
08- Calling Out Your Name
09- Heart Of A Gold
10- I´ll Be Your Man
11- If Time Is All I Have
12- Turn Me On

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domingo, 10 de julho de 2011

Pink Floyd - Wish You Were Here [1975]

Sempre relutei em escrever sobre o Floyd, porque tenho tanta reverência pelo som desses caras, que sempre senti que o que escrevesse estaria aquém do que eles merecem, ou, a contrario sensu, estaria muito além do que a obra deles realmente significa. Mas, acredito, principalmente, que a escrita deve ser um reflexo sincero, não da realidade à sua volta, mas, ser sempre fiel ao autor que a concebe.

Pois bem, em meados da década de 70, o Pink Floyd já era reverenciado por terem criado o Dark Side Of The Moon. Nada, até então, era comparável a esse disco. Na época, todos o olhavam como o maior disco de todos os tempos. Quando uma banda atinge um patamar como esse, fica difícil lidar com tudo que cerca uma posição como essa. Fãs, shows megalomaníacos, gravadoras, empresários, jornais, mulheres, drogas, fãs, shows megalomaníacos, enfim.. deu pra entender.

A transformação de uma notória banda de rock progressivo a uma das maiores do mundo não se dá de forma lenta e graduada, se dá como um soco no estômago. E nem todos estão muitos preparados pra isso. A temática de Wish You Were Here é a vontade de Waters e Gilmour em demonstrar implicitamente o desconforto com essa situação.

O Pink Floyd passava a ser um mero instrumento de lucro, tanto deles, como de muita gente à sua volta, e isso é algo muito perigoso, muita coisa legal pode acabar por aí. Era preciso uma resposta, e uma propagação de que: 'Ei, a gente num é muito isso do que vocês tão pensando, somos diferentes.' E essa necessidade se tornou ainda mais explícita com uma visita inusitada naquele mesmo ano. Em meio as gravações do disco, na Abbey Road, colocou a cara na saleta da banda alguém chamado como Syd Barret. Syd foi o fundador do Pink Floyd, no final da década de 60. O nome da banda deriva do gosto dele pelo blues, homenageando dois compositores do gênero: Pink Anderson e Floyd Council.

O problema é que com poucos anos na liderança da banda, Syd se entorpeceu de tudo que encontrava pelo caminho, comprometendo totalmente sua perfomance artística. Ficava inviável permanecer na banda. Seu afastamento e a substituição pelo ex-modelo Dadid Gilmour transformaria a estrutura do Pink Floyd, seria definitiva. Quando Syd apareceu gordo, careca e com visíveis problemas de saúde, todos eles perceberam que as coisas podiam dar muito errado, muito mesmo.

Foi aí, que Gilmour compôs 'Shine On Your Crazy Diamond', uma epopéia de 25 minutos que permeia todo o disco, talvez o single mais legal do Floyd, em homenagem ao seu ex-líder. Aliada a ela, Waters dá boas-vindas a eles próprios no meio industrial, com 'Welcome To The Machine'. Enquanto essas duas faixas permeavam todo o desespero e a preocupação existente pelos rumos da banda, 'Have a Cigar' composta por um amigo da turma, Roy Harper, falava apenas sobre ingratidão. Fechando o disco, aparecia 'Wish You Were Here', talvez, a música mais conhecida da história da banda, desabafando sobre ternura e solitude, refletindo expressamente o que o grupo sentia. Um disco que destoa da progressividade constante do Pink Floyd, mas, que não deixar de ser um de seus melhores, mais sinceros e mais belos.

01- Shine On Your Crazy Diamond (Partes I a V)
02- Welcome To The Machine
03- Have a Cigar
04- Wish You Were Here
05- Shine On Your Crazy Diamond (Partes VI a IX)


Link: http://www.*fileserve*.com/file/BNVx6dN


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Os Paralamas do Sucesso - O Passo do Lui [1984]

Minha banda de Brasília predileta. Assim como um bom time, uma banda tem que ser composta por grandes componentes. Às vezes, vale mais o coletivo que o talento individual. O Pink Floyd nunca foi composto por exímios instrumentistas, mas, criavam um som que ninguém mais conseguiu igualar. Dessa mesma forma, o grupo pode até ter um ou outro gênio e não fazer uma porcaria decente.

Os Paralamas, pelo contrário, conseguiram aliar a genialidade instrumental dos seus membros com uma qualidade muito acima da média em suas composições. Hebert, Bi e Barone são os melhores músicos de sua geração. É, são mesmo. Talvez só Edgar Scandurra possua um talento comparável a guitarra que Hebert Vianna.

Já na bateria, não consigo ver ninguém melhor que João Barone, nem o baixo de Bi parece estar perto de qualquer um de sua época. Gosto dessas comparações inseridas em um mesmo contexto histórico, essa coisa de 'melhor de todos os tempos' é uma furada, cada sujeito é proveniente de seu próprio tempo na linha de do papai Chronos.

Pois bem, querem historinha? Lá vem. Essa turma se reuniu no final da década de 70 no Rio, Hebert e Bi foram vizinhos em Brasília e se mudaram pro Rio pra estudar. Montaram um grupo junto com Vital, que depois que furou um show na Universidade Rural, nunca mais voltou, sendo substituído por João Barone. Para Vital, apenas a glória de ser eternizado no primeiro sucesso da banda: 'Vital e Sua Moto'.

Após serem a primeira banda originária de Brasília a emplacar no cenário daquela década, apareceu seu segundo cd: O Passo Do Lui. Lançado em 1984, possui a sequência mais fuderosa que eu já vi um disco nacional apresentar, é uma sequência de hits impossível de não ser ouvida várias vezes, o apogeu de 3 músicos aos seus 20 e poucos anos, tocando o que mais gostava. Se você taí pensando em como se salvar depois de ter feito merda com a namorada, ouça esse disco, talvez lhe dê idéias, até tentei refazer uma carta de amor que bem poderia ser escrita apenas com essas músicas, se quiser usar, me dê os créditos:

Por que você não olha pra mim? por trás dessa lente tem um cara legal. Entenda, que o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria. Sei lá, vai ver, que a confusão fui eu que fiz! fui eu! Entendi que eu tô pagando pelos erros que eu nem sei se cometi. Pior que de todos os seus sonhos, não restou nenhum, de tudo que eu li, do pouco que eu sei, nada me resta. É, eu sei, jogos de amor são pra se jogar. Sigo assaltando a gramática, assassinando a métrica, porque você merece um amor que lhe dê aquilo que for.

Assim, Hebert Vianna desencantou como grande mente do rock nacional, ainda podendo ficar em pé, dando pulinhos e caindo nas graças de um Rock In Rio lotado. O Passo do Lui foi tão significativo nas rádios quando Nós Vamos Invadir Sua Praia ou Rádio Pirata, tocou, tocou, tocou até ninguém aguentar mais. Discos como esse, me dão aquela estranha vontade de ter vivido o que nem vivi.

Sobre a fase posterior, mais politizada, aparecerá em um próximo post, por enquanto se deleitem com a maior banda do rock nacional dos anos 80.

01 - Óculos
02- Meu Erro
03- Fui Eu
04- Romance Ideal
05- Ska
06- Mensagem de Amor
07- Me Liga
08- Assaltaram a Gramática
09- Menino e Menina
10- O Passo do Lui

Link: http://www.*4shared.com*/file/puOjN1py/1984_-_O_passo_do_Lui.htm

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ludov - O Exercício das Pequenas Coisas [2004]

Na metade dos anos 2000, a MTV já começava a capengar em sua programação. A emissora que um dia teve gente como Thunderbird, perdia cada vez mais a credibilidade pra mim, principalmente em relação a seus prêmios. Atualmente, quem vê Restart faturando tudo que é troféu por lá, nem imagina que em cima daquele palco já passou gente como Chico Sciente & Nação Zumbi. O ciclo da vida é uma merda mesmo.

Em outubro de 2004, uma banda paulista levava o caneco por 'Melhor Videoclipe Independente' da música 'Princesa', era a turma do Ludov. Naquela época, era comum encontrar na grade de programação algumas bandas que faziam um rock bonitinho, café com leite e de boa índole. Essa turma era exatamente o grande expoente do que aparecia de novo. Com mais de 10 anos de underground, o Ludov derivava de uma banda chamada Maybees, que há um bom tempo tocava em inglês nas nights paulistanas.

Como com o tempo cantar em inglês se torna um pé no saco (É, o Sepultura é um pé no saco), pensaram que seria melhor balbuciar no bom português, usando uma abreviatura do Tratamento Ludovico, eternizado por Kubrick em Laranja Mecânica. O primeiro EP, Dois a Rodar, estreou em 2003, com um apanhado de músicas bonitinhas e leves, facilmente comestíveis. Com o sucesso de 'Princesa', e o videoclipe da aeromoça, ganharam notoriedade no cenário indie brasileiro, e uma assinatura com uma gravadora não tardaria.

Foi assim que chegaram a Deckdiscos, tornando o primeiro cd uma possibilidade concreta. O Exercício das Pequenas Coisas é sem dúvida, um bom disco. Me lembra um pouco de Penélope, outra banda paulista conhecida por suas músicas a là Pixies e Belle and Sebastian, com voz feminina e oposto de conterrâneos como Ira!. A formação do Ludov pra esse disco, traz Vanessa Krungold nos vocais, o japa fã de quadrinhos Mauro Motoki, Paulo Chapolim, Habacuque Lima e Eduardo Filomeno, uma escalação que deixaria qualquer locutor de futebol de cabelo em pé.

O disco, em si, é daqueles de se ouvir escovando os dentes, em uma boa manhã de domingo. Ressalta as coisas boas da vida, o lado bom do amor, aquela frescurite de paz que sempre assola todo mundo, principalmente quando se pensa que uma coisa intangível como a felicidade parece estar presente.

01- Sério
02- Estrelas
03- O Dia em Que Seremos Felizes
04- Dorme Em Paz
05- Esquece e Vai
06- Sete Anos
07- Kriptonita
08- Supertrunfo
09- Gramado
10- Mais uma Vez
11- Elastano
12- Todo Esse Ar
13- Tudo Bem, Tudo Bom
14- É Só Saudade
15- Princesa (bônus)

Link:
http://www.*4shared*.com/dir/4598210/6aa43092/ludov_-_o_exerccio_das_pequenas_coisas.html

sábado, 2 de julho de 2011

Zeca Baleiro - Pet Shop Mundo Cão [2002]

José Ribamar dos Santos, o Baleiro. Creio eu, que nessa minha já vasta presença em shows de muita gente, foi quem eu mais vi. Conto 4 apresentações, ao todo. Zeca Baleiro é oriundo de São Luís do Maranhão, a terra do reagge.

Esse maranhense sempre teve ligado a música, começou sua carreira escrevendo músicas infantis para teatro, depois pinotou para São Paulo, onde passou a dividir apartamento co
m o maluco do Chico César, aflorando de vez suas composições até chegar a 'Flor da Pele', lançada por Gal Costa.

Não dá pra dizer que Zeca seja unicamente um cantor de MPB, é mais ou menos o que a sobriedade de Lenine não deixa escapar: ninguém hoje faz MPB. Esse gênero utilizado pelo mercado comercial e pelo boca-a-boca das pessoas está preso a figuras como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, há muito tempo vivemos outro momento, onde a interatividade de ritmos é que fazem a totalidade da boa música feita por aqui.

De tudo que esse vendedor de doces já fez, o meu preferido é Pet Shop Mundo Cão, talvez o mais renegado entre o grande público. Pet Shop é, além de tudo, louco pra caramba. Zeca mistura côco, samba, eletrônico, Roberto Carlos e rock´n´roll em uma salada de puro refinamento, fazendo com que seja com certeza seu mais genioso trabalho. Para se ter uma idéia da complexidade de temas desse disco, vou listar aqui as preciosidades como se fossem relacionadas a tópicos de um artigo científico, um índice pseudointelecutal muito mal feito, vamos lá:

1- Multivariedade racial e cultural: em 'Minha Tribo Sou Eu, Zeca traz a noção de como é fútil a discussão sobre dogmas raciais e culturais, na verdade, o ser humano moderno é cada vez mais cosmopolita e contemporâneo, e todo bairrismo, que gente como eu ainda costuma a colocar, é frágil de argumento e aplicação.

2- Alienação do Trabalho: como muita gente sabe, trabalhar é uma merda. É a grande causa de alienação e subdesenvolvimento da capacidade humana, como o velho Chaplin já dizia em Tempos Modernos. 'Eu Despedi o Meu Patrão', é uma libertação das amarras do meio produtivo capitalista, sonho de muitos, e privilégios de poucos.

3- Apego à Tecnologia: Em 'O Hacker', exercita um bom jogo de palavras utilizando-se da união entre a vida cotidiana e símbolos tecnológicos como a Internet. O chat das 5, que hoje substitui o antigo encontro entre rodas de amigos.

4- O espetáculo do Mundo Business: A mentalidade cada vez mais aliada a utilização de tudo e de todos como forças de um meio produtivo aparece em 'Mundo dos Negócios', o popular ganhar dinheiro com tudo e de todas as formas. A arte cada vez mais subjulgada pelo negócio.

5- O Cotidiano e a Urbanidade: a rotina que qualquer um cai e que profundamente gente como eu deseja em 'Filho e Um Cachorro', afinal, o ideal de família burguês existe desde a Revolução Francesa, somos filhos dele e nossa maioria, pelo menos ainda, persiste como os propagadores dele.

Depois dessa mostra de até onde a poesia de gente como José Ribamar vai, fica obrigatório curtir esse disco, afinal, o mundo é cão, mas, nós não.

01- Minha Tribo Sou Eu
02- Eu Despedi O Meu Patrão
03- O Hacker
04- Telegrama
05- Mundo dos Negócios
06- Guru da Galera
07- Drumembêis
08- Um Filho e Um Cachorro
09- Fiz Esta Canção
10- As Meninas do Jardim
11- Mundo Cão
12- Filho da Véia
13- A Serpente
14- Meu Nome é Nelson Rodrigues

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