terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os Paralamas do Sucesso - Selvagem? [1986]

1986. 

Após estourar com O Passo do Lui, Hebert, Bi e Barone partem em turnê pelo Brasil após a apresentação consagrada no Rock in Rio (tipo, um Rock in Rio de verdade, não do tipo que engolimos recentemente). Passando por caatingas, planíces verdejantes, skylines em metrópoles, subúrbios, zonas rurais, Cristo Redentor, praias, favelas, condomínios e tudo mais que essa pátria amada tem, o trio começa a despertar concepções sobre o país em que vive. 

Sim, senso crítico. Uma coisa que todo ser humano deveria ter. Ou pelo menos tentar. Durante as viagens da turnê os Paralamas veem como o país realmente é, longe de ser um território com uma economia forte, uma democracia em evolução e uma saúde impecável, como todo governo petista ou tucano gosta de ressaltar. 

Fome, miséria, abandono, precariedade, alegria, ritmo, música, sorrisos, os imensos contrastes que só a sociedade brasileira é capaz de criar, com muito sofrimento e diversão. Enxergando o Brasil em sua essência, Herbert fixa a tonalidade do terceiro álbum do grupo: seu próprio país. Mas, para isso ele sente a necessidade de romper com a linha dos novos grupos da época. Não mais punk, rock e pop. Os Paralamas tocariam ska, reggae e mpb, em um experimentalismo brutal para uma banda de Brasília. 

A notícia cai como uma bomba para a gravadora e para os coleguinhas de plantão. Após o sucesso de O Passo do Lui, era praticamente impositivo que a fórmula fosse repetida no próximo álbum. Por deixar de lado a necessidade de seguir a linha de canções amorosas seguindo a tônica da época, Herbert foi duramente criticado dentro do meio. 

Dinheiro, fama e mulheres seriam trocadas por baladas da Jamaica falando de miséria? Sim. A EMI compra a briga e Liminha passa a produzir a ideia. A partir daí que se começa a notar o quanto esse trio se diferenciava de muitos outros.

Nasce Selvagem, com uma musicalidade efervescente aliada a parcerias como a de Gilberto Gil, os Paralamas do Sucesso trazem maturidade a uma turma de garotos que abria seus olhos para o mundo à sua volta. Para seu próprio país. Para além de seu próprio umbigo. Com "Alagados" e "A Novidade", retratando a realidade brasileira, "Teerã" que incorporava o reggae jamaicano, e "Selvagem" que dá título a obra, o disco vende 700.000 cópias e os coloca de vez entre as maiores bandas do país. 

01 - Alagados
02 - Teerã 
03 - A Novidade
04 - Melo do Marinheiro
05 - Marujo Dub
06 - Selvagem
07 - A Dama e o Vagabundo
08 - There´s a party
09 - O Homem
10 - Você
11 - Teerã Dub