terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Oasis - The Masterplan (1998)

Noel Gallagher foi o maior compositor da década de 90. Por quê? Por suas obras. Em 1998, o Oasis lançou uma coletânea, escolhida no site da banda (é, em 1998!) logo após o furor de Be Here Now, denominada: The Masterplan.

A capa, um reflexo da proposta do disco. Inúmeros intelectuais e críticos dispostos em uma sala de aula debatiam-se por inúmeros assuntos alheios à música. Não se procurava atenção, queria-se um registro. E foi isso que se conseguiu.

No mercado, principalmente internacional, é comum o lançamento de singles. Singles são músicas de trabalho de qualquer banda, são as canções escolhidas para tocar na rádio e que ganhar clipes no Youtube e na MTV, junto a elas, aparecem fragmentos de composições ou gravações que ficaram de fora do lançamento à época ou foram simplesmente esquecidas pelo tempo. As chamadas B-sides.

Sempre tive em mente, por mais idiota que seja a idéia, que se mede a influência e a capacidade de um compositor pela qualidade de suas B-sides.

A variedade e completude de uma obra, em torno de um único músico, passa pela oportunidade que cada canção produzida tem de alcançar seu espaço, seja em uma fita empoeirada pelo tempo ou pela voz de um outro intérprete. Noel Gallagher, é um desses biscoitos finos que consegue inserir suas composições além do que previam suas simples propostas, apenas pela profunidade das canções.

Em The Masterplan, o Oasis reuniu músicas que ficaram de fora de seus três primeiros discos. Entre elas, a lista continha 'Acquiesce', um retrato implícito dos irmãos de Manchester, composta dentro de um trem a caminho do país de Gales. 'Talk Tonight', minha preferida, dedicada a uma gentil garçonete de São Francisco, lugar que também deu origem a 'Half The World Away': singelas expressões ao violão-solo.

'Fade Away' perdeu a briga com 'Slide Away' e ficou ausente de Definitely Maybe, embora retrate toda a atmosfera do disco de estréia. A canção-título, 'The Masterplan', é definida pelo gênio da guitarra, como a mais lirista de toda a carreira da banda, uma jornada pela vida, despreocupada e confiante.

Além de comprovar a capacidade de um compositor aos seus 28 anos de idade, o disco vendeu dois milhões de cópias em todo o mundo, sendo a minha uma delas, guardada com muito carinho, como símbolo de uma época que não voltará mais.

01- Acquiesce
02- Underneath the Sky
03- Talk Tonigh
04- Going Nowhere
05- Fade Away
06- The Swamp Song
07- I Am The Walrus (Live)
08- Listen Up
09- Rock´in Chair
10- Half The World Away
11- (It´s Good) To Be Free
12- Stay Young
13- Headshrinker
14- The Masterplan


Link: http://*www.4shared.com*/rar/BMnhs3ZU/1998_-_The_Masterplan.htm

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Chico Buarque - Vida [1980]

É por discos como esse, que Chico Buarque é o maior compositor desse Brasil. De toda a sua gigantesca discografia, escolho como meu preferido. Existem motivos óbvios para isso. Lançando em 1980, Vida vivia um período inédito na vida do vovô, o de liberdade das amarras da censura.

Isso, para um compositor já maduro, chegando na base de seus 40 anos de idade, é um prato cheio para a fertilidade musical. E nisso, Francisco explora muito bem. Rejeito a caracterização fútil e superficial de Chico como um compositor político ligado ao movimento repressor do governo militar. É como dizer que FHC é liberal porque foi tucano e Lula é comunista por ser petista, uma análise típicamente brasileira, envolta à preguiça e a falta de inteligência ao abordar um assunto.

Essa caracterização se torna frágil ao analisarmos os próprios anos 70, para adentrar no discurso, é só ter um pouco de pura empatia e se vestir nos trajes de um escritor ou compositor da época. Fácil afirmar que você não poderia escrever tudo que tivesse na cabeça. Ser preso, torturado, exilado ou até, eram hipóteses recorrentes. Então, nada mais justo que passasse a falar de sentimentos, emoções, personalidades e sobre o país em código, um braile pautado em inúmeros acordes de samba e delicadeza com a língua portuguesa. Você ao fazê-lo não se faria político, nem ao menos, comunista.

Pois bem, a partir de 1980, com o começo da transição para a democracia, Chico estava finalmente solto para compor sem as amarras de mais de uma década. Assim, Vida se tornou um fenômeno pela intimidade e existencialismo em que trata diversos temas do cotidiano, como sempre a obra de Chico fez. Dessa vez, a metáfora é deixada de lado pela sinceridade, pelo toque e carícia com as palavras, uma reinvenção de um compositor calado pelo punho estatal.

Com a ajuda de gente como Francis Hime, Tom Jobim e Roberto Menescal, o disco aparece pautado por arranjos luxuosos e simétricos. A primeira faixa, auto-título, é trazida por um homem que dá um sopro de liberdade, se revigorando com a surpresa que o tempo lhe trouxe: 'Eu sei que fui feliz, luz, quero luz, sei que além das cortinas são palcos azuis.'Para aliar, trazia consigo obras que foram pautadas em espetáculos teatrais e cinematográficos da época, como 'Eu te amo' e 'Bye-Bye Brasil.'As canções por encomenda, como denomina, frequentes a partir do final dos anos 80.

Despedida, solidão, amor, desamor, temas recorrentes na obra desse monstro aparecendo de forma intimista e personalizada, como o sofrimento de uma atriz, de uma dona de casa, de um padeiro, de um sambista, de gente simples, como eu e você. Vida não é mais um disco padecendo em um universo mercadológico, é um retrato das nossas vidas. Como sua obra também o é.

1. Vida
2. Mar E Lua
3. Deixa A Menina
4. Já Passou
5. Bastidores
6. Qualquer Canção
7. Fantasia
8. Eu Te Amo
9. De Todas As Maneiras
10. Morena De Angola
11. Bye Bye , Brasil
12. Não Sonho Mais

Link:http://www.jobim.org/chico/handle/2010.2/1398


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Paralamas do Sucesso - Longo Caminho [2002]

O ser humano tem uma capacidade incrível de superar as dores e as tragédias. Um íntimo tão pessoal e poderoso que alguns expõem a passar por determinada situações, cuja fonte pra mim parece impossível de ser encontrada. Fé, Deus, Força, Espírito, ou qualquer outro tipo de entidade que ilumine esses seres, elevam uma simples forma humana a um super-homem de fazer inveja a Zaratustra. Afinal, cada vez mais estamos rejeitando esses momentos, parece que a dor, não é mais um suplício humano. Já alcançamos o status de deuses.

Dentre aqueles que mais admiro no mundo da música, o sujeito que vi realizar uma dessas revoluções de si mesmo foi alguém chamado Hebert Vianna. Em 4 de fevereiro de 2001, Hebert perde o controle de seu ultraleve em Mangaritiba - RJ e cai no mar. Ao seu lado no avião, está sua esposa Lucy Needham. Eu tinha 12 anos de idade, mas, já era um fã convicto dos Paralamas do Sucesso.

A notícia do acidente de Hebert durante a tarde de domingo, me causou mais perplexidade que o próprio acidente de Ayrton Senna, visto in loco, em 1994. Minha relação com ídolos, de sempre íntima, faz as perdas abruptas serem muito sentidas.

De um acidente praticamente mortal, Hebert ficou paraplégico, perdeu sua amada e mãe de 2 filhos. Lucy não resistiu. Talvez Hebert não resistisse também. Que alegria que ele não seguiu a regra lógica.

Após 44 dias em coma, Hebert acorda com perda parcial de memória. O quadro clínico é surpreendente, e com poucos dias, ele já tenta manusear uma guitarra com imensa dificuldade. A força do talento e da perseverança como eu nunca vi. Um ano de apoio dos fãs e dos amigos, fazem que Longo Caminho, até então preso em uma gaveta, esperando a volta de seu criador, apareça.

Longo Caminho foi gravado antes do acidente, mas, teve seu lançamento indeterminado pela tragédia. O disco, melódico e profundo, era o primeiro gravado desde um interlúdio de 3 anos. A formação, continuaria a mesma, Hebert, Bi, Barone. Nunca precisaram de mais ninguém.

A única diferença, é que Hebert não seria o mesmo, transformado fisicamente e psicologicamente pela tragédia, ele tentava aos poucos viver novamente. Assim como seu título, um Longo Caminho estava por vim.

Canções sentimentais como 'Amor em Vão' e 'Cuide do Bem do Seu Amor' demonstram a necessidade do presente e de suas relações no cotidiano, cultivá-las, faz, muita diferença. 'Seguindo Estrelas' virou um hit apaixonado, dedicado a esposa Lucy, em toda a turnê. Enquanto 'O Calibre' foge do limiar do disco, trazendo o Alagados dos anos 2000.

Assim, pouco mudou no país, muito mudou em Hebert, muito aprendi... ou será que não?

01- Amor em Vão
02- La Estación
03- O Calibre
04- Seguindo Estrelas
05- Longo Caminho
06- Soldado da Paz
07- Cuide Bem do Seu Amor
08- Flores no Deserto
09- Running On The Spot
10- Flores e Espinhos
11- Hinchley Pond