quinta-feira, 29 de março de 2012

Volver - Próxima Estação [2012]


Uma das bandas mais legais do Brasil acaba de lançar seu terceiro CD. E é claro, que eu tô falando da Volver. Não costumo postar novidades por aqui, assim, saídas do forno. Não consigo gostar instantaneamente de alguma coisa, leva tempo, degustação, pensamentos e reflexões. Mas, vamos abrir uma exceção.

Próxima Estação já tinha algumas músicas conhecidas pelos fãs da banda, desde o último ano, quando os pernambucanos já mostravam um pouco do novo disco nos shows. Entretanto, o disco começou a ser pensado já no final de 2010. Como novidade interessante, a banda assume uma postura muito mais profissional e totalmente radicalizada em São Paulo. Virou coisa de gente grande. Extremamente necessário quando se quer ganhar dinheiro. Mas, nem sempre isso quer dizer uma queda na qualidade do que se produz. Pelo contrário, agora a sonoridade parece diferente em alguns momentos. Sobre as espectativas, Bruno Souto revela:

“As expectativas são muito boas. Demoramos pra lançar por vários fatores, e muitos deles além de nossa vontade, mas estamos orgulhosos com o disco. Claro, tem várias coisas que eu mudaria nele, mas, normal. Disco não se termina, e sim, se abandona. Já estou pensando no próximo
.

O rocker sessentista do começo da banda divide lugar com baladas leves sobre amor e outros devaneios insertos com letras de grande carga reflexiva. Composições adultas, por assim dizer. Os temas, recorrentes ao dia a dia de qualquer humanóide, mantém a banda próxima daqueles de ouvidos apurados e são uma boa pedida nesse início de 2012. Além disso, a banda passa a ser um quinteto, com a adição do teclado de Missionário José e a cessão do baixo de Fernando Barreto à Augusto Passos.

Dentre as faixas, há o aparecimento da polêmica, desde sua concepção, "Mangue Beatle". Volver, popularmente conhecida como banda extraída do seio cultural de Recife, sempre esteve um pouco de lado do movimento manguebit da metade dos anos 90, fazendo com que essa extensão do trabalho de Science sempre fosse renegada, e deixada de lado a outros contemporâneos, como Mombojó.

Ademais, a influência dos caras é muito mais imperativa no que tange ao rock britânico e a Jovem Guarda Brasileira do que o disco Da Lama ao Caos, coisa que para uma cena cultural tão apeguada a seus referenciais, pareceu um crime. Assim, Bruno Souto destila acidez contra a necessidade do rótulo manguebit aos artistas locais, fazendo questão de afirmar que dessa lama, não faz parte.

Atitude interessante e condizente com a forma de como concebe a banda, benéfica até, que trará frutos em um lançamento nacional. As crianças cresceram, senhoras e senhores. Letras maduras e uma ótima produção. Orgulhosos, já pensam no futuro.

01 - Marizabel
02- Próxima Estação
03- A Dor que Goza
04- Simplesmente
05- Mallu
06- Mangue Beatle
07- Gente
08- Amargo
09- Saudades do Verão
10- Ana
11- Sincero
12- Próxima Estação (acústica)

Link: http://albumvirtual.trama.uol.com.br/album/1128131251 (o download pode ser feito pela Trama Virtual)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Apanhador Só - Apanhador Só [2010]

Ah, o Sul. Uma região que nunca fui e tenho imensa vontade em conhecer. Afinal, parecem seres muito mais civilizados que essa sociedade que conhecemos aqui ao norte. Ao longo das últimas três décadas, os sulistas trouxeram grandes contribuições ao rock brasileiro. Humberto Gessinger? Claro. E uma enorme trupe. Nenhum de Nós, Cidadão Quem, Bidê ou Balde, Wander Wildner.. A lista é enorme e impera respeito.

Entre eles, adentrando essa década mequetrefe para a música brasileira, entre "shimbalaiês" e calças coloridas, algumas cabeças parecem destoar da imensa massa e apontar para um novo rumo. Rumo esse que condiz com a sequência de bons nomes do rock gaúcho que merece passar por aqui.

E esses bons nomes, são os caras do Apanhador Só. Coincidência ou não, atentei pela primeira vez ao som desses caras quando notei a referência entre o nome da banda e Apanhador no Campo do Centeio, um dos meus livros favoritos. A história de Holden figurou por muito tempo na minha adolescência, como uma das melhores obras que já li. Indico para qualquer um que tem um "aborrecente" em casa, um clássico necessário a qualquer formação. De sua mistura com "Marinheiro Só" do Caetano Veloso surgiu o título do grupo.

O começo foi bem típico, e com uma qualidade já evidente. Aos 15 anos Alexandre Kumpinski já entoava clássicos do The Who, dos Beatles e fazia uma mistura inovadora com sons de Chico Buarque, em tom de powertrio. Nas palavras de Alexandre, quase bacharel em letras, um aviso: 'para escrever, não é necessário se fazer um curso.' Sábias palavras, meu jovem. Sábias palavras.

Afinal, as letras líricas da banda preenchem um vazio que há muito tempo permeia as novas bandas, ainda tão ligadas a necessidade de reproduzirem Marcelo Camelo, pode-se formar sua própria poesia, a evolução é constante.

Com a chegada de Carina Levitan, a percussão com cara de sucata começou a dar o ar da graça, fundamental aos novos projetos da banda. Com Felipe Zancanaro na guitarra e algumas mudanças no grupo, tornou-se a forma atual: Kumpinski, Zancanaro, Fernão Agra e Martin Estevez (ô povo pra gostar de nome gringo).

Após umas temporadas e alguns Eps, surgiu a necessidade de um primeiro disco. A Fumproarte (Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre) abriu edital para seleção de projetos, fazendo com que Kumpinski e sua turma jogassem uma demo de Embrulho pra Levar, o primeiro EP).

Com o parecer positivo da comissão de licitação (na terceira tentativa), praticamente todo aquele EP estaria presente nesse primeiro disco. Justo. Para quem ainda não conhecia, foi como revisitar os primeiros passos da banda. De qualquer maneira, sempre importante.

Apanhador Só sabe bem o que quer, letras concisas, irônicas, amorosas, aliadas a uma variedade de ritmos que à primeira vista impressiona. Do romantismo ao violão a um baião entoado nas guitarras, os meninos demonstram que não seguem fielmente seu rótulo gaúcho, não precisando usar galochas e reinventarem Engenheiros do Hawaii. Tem seu próprio valor.

Jovens de próprio valor, isso tá fazendo falta pra caramba hoje em dia.

01- O Rei e o Zé
02- Pouco Importa
03- Prédio
04- Maria Augusta
05- Peixeiro
06- Bem-me-Leve
07- Nescafé
08- O Porta Retrato
09- Baião-de-Vira-Mundo
10- Jesus, O Padeiro e O Coveiro
11- Origames Over
12- Vila do Meio-Dia
13- E Se Não Der

Link: http://www.apanhadorso.com/

terça-feira, 20 de março de 2012

Legião Urbana - Que País É Este (1987)

11 entre 10 crianças que nasceram na década de 90 sabem de cor ''Faroeste Caboclo''. Nasceram e cresceram por entre fábulas e lendas sobre um compositor homossexual da década de 80, chamado Renato Manfredini, o Russo, para os íntimos. Com um vozeirão e uma imensa sensibilidade em suas canções, Renato foi, sem dúvida, o maior expoente do rock nacional brasileiro até hoje.

Duvido, que depois de sua geração apareça alguém capaz de significar no imaginário dos jovens brasileiros o que ele significa. Uma pena, que não criamos mais jovens assim. Mas, diante de uma juventude burra, alienada e irrelevante, ainda encontramos gente que sabem cantar suas músicas do início ao fim, em qualquer hora do dia, seguindo seus passos mesmo mais de 15 anos depois sua morte.

Em 1987, a Legião Urbana já se consolidava como uma das maiores bandas do país. O boom dos anos 80 já dava sinais que estava enfraquecido, e nada mais que despertasse grande interesse surgia. Renato teve uma ascensão interessante, já que foi um pouco tardia em relação a seus contemporâneos de estilo, como os Paralamas do Sucesso. O fato de ter aparecido depois, fez com que seu auge coincidisse com a queda na popularidade de outras estrelas, como o Barão Vermelho. Isso, com certeza, influenciou no impacto de recepção desse disco.

O disco, em si, era o terceiro da banda, com um punhado de canções que estavam esquecidas desde o fim do Aborto Elétrico, banda inaugural do rock brasiliense, criada por Renato Russo no fim da década de 70. A maioria Renato já havia composto há quase 10 anos atrás. Entre elas, uma chamava a atenção. Uma epopéia de 168 versos e nenhum refrão sobre um tal de João do Santo Cristo. Um grude gigantesco.

Para quem vivia em Brasília no início dos anos 80 e convivia com Renato, a fama do compositor de Faroeste Caboclo já ganhava força, porque, ao primeiro som, criava uma atmosfera de amor à primeira vista. Foi assim com os primeiros acordes no Planalto Central, e seria, com sua difusão nacional.

Esquecida por aqui, achei uma das versões sobre a origem da música. Flávio Lemos, baixista do Capital Inicial e amigo de infância de Renato, foi passar um belo fim de semana no Rio de Janeiro, com a família Manfredini. Em uma viagem pra Búzios, da qual Renato não foi, Flávio transou com uma prima de Renato, chamada Mariana. A qual, esse nutria um amor platônico, não correspondido. Ao chegar no Rio, a menina contou a todos. Nas palavras de Flávio:
"Quando voltei, ele já sabia. E considerou aquilo uma traição. Cheguei de madrugada, tinha viajado a noite toda, e ele me acordou bem cedinho. Renato tinha passado a noite inteira escrevendo a música. Ele me disse que eu era o Jeremias, o maconheiro sem-vergonha. Ele era o João de Santo Cristo - olha o nome que ele tinha dado a si mesmo! - E a prima Mariana era a Maria Lúcia. Renato criou um épico com essa história."

E foi um épico mesmo, a Legião Urbana tomou o lugar estrondoso do RPM, se consolidando a passos firmes na cena mainstream da música brasileira. De Globo de Ouro a disco de diamante, não havia limites para onde esses caras tinham chegado. Renato, tentando explicar o sucesso do disco, declara:
"Acho que (o sucesso) tem a ver com a tradição da música folclórica no Brasil, de possuir uma ligação forte com a narrativa - a música sertaneja tem muito disso." "Fora o fato de a música falar de um cara que está sofrendo altas dificuldades, tentando manter sua honra. As pessoas se identificaram com isso.''

E se identificam, até hoje, Que País É Este é um disco atemporal. Marcado intensamente pelo sentimentalismo de Renato, seja em sua face explosiva ou amorosa. Uma personalidade diferente, sem dúvida.

Curiosidades: Que País É Este, Conexão Amazônica, Mais do Mesmo e Faroeste Cabloco sofreram censura.

01- Que País É Este
02- Conexão Amazônica
03- Tédio (Com um T Bem Grande pra Você)
04- Depois do Começo
05- Química
06- Eu Sei
07- Faroeste Caboclo
08- Angra dos Reis
09- Mais do Mesmo

Link: http://www*.fileserve.com/file/CSQPww7