segunda-feira, 16 de maio de 2011

Especial Nação Zumbi - Parte 1: Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos [1994]

Tentarei em 3 partes fazer alguns devaneios sobre o Manguebeat (ou bit). Não é uma tentativa exaustiva, nem uma pré-tese de mestrado acerca de porra nenhuma. Diria que é apenas uma conversa de bar, onde ponto a ponto tentarei mostrar 3 fases da maior banda da música pernambucana, se confundido com o próprio movimento.
Emergência! Um choque rápido, ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico pra saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruir as suas veias. O modo mais rápido também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paraliza os cidadãos? Como devolver o ânimo deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco da energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife. (Trecho do 'Manifesto dos Carangueijos Com Cérebro).

Recife, como uma grande capital, sempre enfrentou inúmeros problemas desde o industrialismo da sociedade brasileira a partir dos anos 60. O crescimento da população, a formação de um pólo industrial inversalmente proporcional a degradação do meio-ambiente, o crescimento dos subúrbios, das áreas marginais e da violência contribuíram para a formação do arquétipo de cidade violenta, fedida e intransitável.

Eu, apesar de amá-la, ainda sinto enorme dificuldade em projetar um futuro de crescimento econômico, igualdade, rios limpos e árvores em cada esquina. Não sei nem como, implementarão tantas melhorias à tempo de uma Copa do Mundo. Mas, é o que dizem, se os políticos dizem, por que não acreditar?

Pois bem, se hoje a coisa já é ruim, há 15 anos atrás era bem pior, além das deficiências geográficas e urbanísticas costumeiras, Recife ainda sofria com uma baixa produção cultural. Vê, era um saco ser jovem naquela época, principalmente se você tivesse uma necessidade em se interligar com algo inerente à sua cidade, ao que era 'da terra'. Havia forró, como sempre ouve, de gosto bom ou duvidoso, havia baião, e a coisa mais moderna que existia, era Alceu Valença. A minha geração que engatinhava e a dos meus pais, há muito tempo não estava integrado a uma produção cultural meio renascimento style, a coisa andava preta. E era hora de agir.

Foi aí que alguns jovens metidos a revoltadinhos instituíram um movimento. Esse movimento deixaria de lado a analogia de 'Veneza Pernambucana' e jogaria a comparação da capital como um mangue, mangue esse que sempre esteve presente em todo lugar, mas, que com a construção desenfreada, cada vez é mais escasso. O 'Manifesto dos Carangueijos Com Cérebro' foi o primeiro passo de uma revolução cultural na natimorta vida cultural da cidade. Se Recife era um corpo, suas veias andavam entupidas, e seu destino era um infarto, os mangueboys e manguegirls deveriam exorcizar esses males e construir sua própria cultura, bebendo em uma nova fonte.

A Chico Sciente e Nação Zumbi e o Mundo Livre S/A foram o braço musical desse movimento. A Nação nascia da união da Loustal, uma banda de pós-punk, com um bloco de reagge, chamado Lamento Negro. Os líderes, Chico Science e Fred Zero 04, autores do Manifesto, imprimiram a música pernambucana uma mistureba jamais vista. Havia baião, havia maracatu, côco-de-roda, Jackson do Pandeiro, um caldeirão de influências pernambucanas que iam de encontro a tradicionalidade já chata e enjoativa dos anos 80. A receptividade foi gigantesca, do bar de Rogê até os primeiros festivais, a banda lançou-se como a coisa mais inovadora que muita gente tinha ouvido, eu, nos meus 5 aninhos, não tinha ainda como entender o que se passava, mas, gente mais velha, dos 35 pra lá, sempre me disseram que foi do caralho, e realmente deve ter sido mesmo.

Com a explosão, Recife apontava como o cenário mais inovador do Brasil, e o olho de grandes gravadoras aumentou, despertando em especial o da Sony, de Liminha. Após começar a botar a cara da MTV, a turma foi chamada para o primeiro cd, produzido pelo próprio. O desafio era enorme, porque até então, ninguém nunca tinha gravado algo do gênero, não se tinha ainda muito idéia de como acoplar tantos bumbos e gêneros de percussão em um único formato. A chance de se tornar uma merda era, digamos, considerável. Lúcio Maia tacava riffs de guitarra pesados, o pessoal da percussão tocava maracatu, sem bateria, e sem pratos, o baixo soava a funk, que porra era aquela? Algo que realmente, só poderia sair daqui.

Aqui, o começo, no próximo, o apogeu.

01- Monólogo ao Pé de Ouvido
02- Banditismo Por Uma Questão de Classe
03- Rios, Pontes e Overdrives
04- A Cidade
05- A Praieira
06- Samba Makossa
07- Da Lama Ao Caos
08- Maracatu de Tiro Certeiro
09- Salustiano Song
10- Antene-se
11- Risoflora
12- Lixo do Mangue
13- Computadores Fazem Arte
14- Côco Dub (Afrociberdelia)

Link: http://www.4shared.com/file/Fs0EJlb2/Chico_Science__Nacao_Zumbi_-_D.htm

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