É por discos como esse, que Chico Buarque é o maior compositor desse Brasil. De toda a sua gigantesca discografia, escolho como meu preferido. Existem motivos óbvios para isso. Lançando em 1980, Vida vivia um período inédito na vida do vovô, o de liberdade das amarras da censura.
Isso, para um compositor já maduro, chegando na base de seus 40 anos de idade, é um prato cheio para a fertilidade musical. E nisso, Francisco explora muito bem. Rejeito a caracterização fútil e superficial de Chico como um compositor político ligado ao movimento repressor do governo militar. É como dizer que FHC é liberal porque foi tucano e Lula é comunista por ser petista, uma análise típicamente brasileira, envolta à preguiça e a falta de inteligência ao abordar um assunto.
Essa caracterização se torna frágil ao analisarmos os próprios anos 70, para adentrar no discurso, é só ter um pouco de pura empatia e se vestir nos trajes de um escritor ou compositor da época. Fácil afirmar que você não poderia escrever tudo que tivesse na cabeça. Ser preso, torturado, exilado ou até, eram hipóteses recorrentes. Então, nada mais justo que passasse a falar de sentimentos, emoções, personalidades e sobre o país em código, um braile pautado em inúmeros acordes de samba e delicadeza com a língua portuguesa. Você ao fazê-lo não se faria político, nem ao menos, comunista.
Pois bem, a partir de 1980, com o começo da transição para a democracia, Chico estava finalmente solto para compor sem as amarras de mais de uma década. Assim, Vida se tornou um fenômeno pela intimidade e existencialismo em que trata diversos temas do cotidiano, como sempre a obra de Chico fez. Dessa vez, a metáfora é deixada de lado pela sinceridade, pelo toque e carícia com as palavras, uma reinvenção de um compositor calado pelo punho estatal.
Com a ajuda de gente como Francis Hime, Tom Jobim e Roberto Menescal, o disco aparece pautado por arranjos luxuosos e simétricos. A primeira faixa, auto-título, é trazida por um homem que dá um sopro de liberdade, se revigorando com a surpresa que o tempo lhe trouxe: 'Eu sei que fui feliz, luz, quero luz, sei que além das cortinas são palcos azuis.'Para aliar, trazia consigo obras que foram pautadas em espetáculos teatrais e cinematográficos da época, como 'Eu te amo' e 'Bye-Bye Brasil.'As canções por encomenda, como denomina, frequentes a partir do final dos anos 80.
Despedida, solidão, amor, desamor, temas recorrentes na obra desse monstro aparecendo de forma intimista e personalizada, como o sofrimento de uma atriz, de uma dona de casa, de um padeiro, de um sambista, de gente simples, como eu e você. Vida não é mais um disco padecendo em um universo mercadológico, é um retrato das nossas vidas. Como sua obra também o é.
1. Vida
2. Mar E Lua
3. Deixa A Menina
4. Já Passou
5. Bastidores
6. Qualquer Canção
7. Fantasia
8. Eu Te Amo
9. De Todas As Maneiras
10. Morena De Angola
11. Bye Bye , Brasil
12. Não Sonho Mais
Link:http://www.jobim.org/chico/handle/2010.2/1398
Isso, para um compositor já maduro, chegando na base de seus 40 anos de idade, é um prato cheio para a fertilidade musical. E nisso, Francisco explora muito bem. Rejeito a caracterização fútil e superficial de Chico como um compositor político ligado ao movimento repressor do governo militar. É como dizer que FHC é liberal porque foi tucano e Lula é comunista por ser petista, uma análise típicamente brasileira, envolta à preguiça e a falta de inteligência ao abordar um assunto.
Essa caracterização se torna frágil ao analisarmos os próprios anos 70, para adentrar no discurso, é só ter um pouco de pura empatia e se vestir nos trajes de um escritor ou compositor da época. Fácil afirmar que você não poderia escrever tudo que tivesse na cabeça. Ser preso, torturado, exilado ou até, eram hipóteses recorrentes. Então, nada mais justo que passasse a falar de sentimentos, emoções, personalidades e sobre o país em código, um braile pautado em inúmeros acordes de samba e delicadeza com a língua portuguesa. Você ao fazê-lo não se faria político, nem ao menos, comunista.
Pois bem, a partir de 1980, com o começo da transição para a democracia, Chico estava finalmente solto para compor sem as amarras de mais de uma década. Assim, Vida se tornou um fenômeno pela intimidade e existencialismo em que trata diversos temas do cotidiano, como sempre a obra de Chico fez. Dessa vez, a metáfora é deixada de lado pela sinceridade, pelo toque e carícia com as palavras, uma reinvenção de um compositor calado pelo punho estatal.
Com a ajuda de gente como Francis Hime, Tom Jobim e Roberto Menescal, o disco aparece pautado por arranjos luxuosos e simétricos. A primeira faixa, auto-título, é trazida por um homem que dá um sopro de liberdade, se revigorando com a surpresa que o tempo lhe trouxe: 'Eu sei que fui feliz, luz, quero luz, sei que além das cortinas são palcos azuis.'Para aliar, trazia consigo obras que foram pautadas em espetáculos teatrais e cinematográficos da época, como 'Eu te amo' e 'Bye-Bye Brasil.'As canções por encomenda, como denomina, frequentes a partir do final dos anos 80.
Despedida, solidão, amor, desamor, temas recorrentes na obra desse monstro aparecendo de forma intimista e personalizada, como o sofrimento de uma atriz, de uma dona de casa, de um padeiro, de um sambista, de gente simples, como eu e você. Vida não é mais um disco padecendo em um universo mercadológico, é um retrato das nossas vidas. Como sua obra também o é.
1. Vida
2. Mar E Lua
3. Deixa A Menina
4. Já Passou
5. Bastidores
6. Qualquer Canção
7. Fantasia
8. Eu Te Amo
9. De Todas As Maneiras
10. Morena De Angola
11. Bye Bye , Brasil
12. Não Sonho Mais
Link:http://www.jobim.org/chico/handle/2010.2/1398
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