segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Rubel - Pearl [2013]

Os dedos são pequenos e o cantarolar engraçado, mas pouco a pouco o garotinho carioca de nove anos de idade começa a se desenvolver dentro do universo da música e cria em si a paixão que permearia sua vida. Seu nome é Rubel Brisolla. 

O pirralho cresce e se torna um músico amador com uma imensa admiração pela MPB setentista, especialmente pelo Tropicalismo. Intrínseco nas artes, Rubel presta vestibular para cinema e consegue intercâmbio de um ano para os EUA, no Texas, precisamente, em 2011.

Ao contrário da visão estigmatizada que temos, o Texas não é apenas um velho faroeste do novo milênio, com imensas indústrias bélicas e frango frito em cada esquina. 

Lá também há jovens com imensa disposição criativa, loucos para tocar e criar, reviver seus ídolos do passado, do folk ao rock.  Esse é o ambiente que Rubel encontra em Austin, uma grande surpresa para quem esperava uma sociedade inteiramente conservadora e repressora de dotes artísticos.

Em uma das andanças por Austin, Rubel encontra uma casa grande lotada de universitários de várias origens com uma só paixão: a música. Seu nome é Pearl. Em pleno coração da América, o presente jamais imaginado. Uma comuna hippie.

O contato foi imediato, e junto de um baterista húngaro e um baixista chileno, a banda informal foi formada naqueles corredores, com covers de Caetano e Mutantes. Desse encontro nasceram sete músicas que foram gravadas na última semana do intercâmbio em Austin, em um estúdio improvisado. 

O coletivo gerou um disco de imensa delicadeza, com arranjos sutis no violão, banjo e acordeon, onde o folk americano flerta com a MPB setentista. Despretensioso, rapidamente atingiu grande público no Brasil o que gerou (pasmem) uma turnê pelo País, incluindo o Nordeste.

O disco é encontrado gratuitamente e livremente no site do Rubel: http://www.rubelpearl.com.br/

 
 
1 - O Velho e o Mar
2 - Mascarados
3 - Pearl
4 - Quando Bate Aquela Saudade
5 - Ben
6 - Nuvem
7 - Quadro Verde


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Ben Howard - Every Kingdom [2011]

Devon, Inglaterra, 1998. 

Um pequeno Benjamin brinca com seu violão no quarto de casa, enquanto a mãe se pergunta por que danado aquela criança ainda não desceu para jantar ainda. O instrumento é uma fascinação para Ben, que desde cedo foi influenciado por gente como Joni Mitchell, John Martyn e Simon & Garfunkel.

"- Eu apenas juntava um aglomerado de coisas", diria Ben Howard mais tarde, ao remeter-se a infância. Mas o violão não seria o único mundo dele, a criança imaginativa também se aventuraria no contrabaixo e na bateria, até focar totalmente no violão acústico. Isso só aconteceria ao término da faculdade de jornalismo na University College Falmouth, em Cornwall. 

Após expor composições próprias tanto em Cornwall quanto em Devon, Ben começou rapidamente a ser reverenciado como um excelente músico, chamando a atenção da Island Records, a mesma que que lançou seu ídolo John Martyn e gênios do folk como Nick Drake. Seria o pontapé inicial para o lançamento de Every Kingdom, em 03 de outubro de 2011, álbum de estreia.

Associado a India Bourne no violoncelo e Chris Bond na bateria, Ben Howard cria um universo próprio envolto a arranjos sutis e uma voz arrebatadora. Nunca o folk pareceu tão pop, sem deixar de transparecer o espírito das letras reflexivas e lotadas de sentimento. No ano de 2012 o álbum invadiria os Estados Unidos, fazendo com que ele descolasse a presença no palco Pirâmide do Festival de Glastonbury em 2013, resultando em dois prêmios no Brit Awards do mesmo ano.

Isso parece ser só o começo, com certeza um dos artistas mais promissores dos últimos anos na música britânica.

1 - Old Pine
2 - Diamonds
3 - The Wolves
4 - Everything
5 - Only Love
6 - The Fear
7 - Keep Your Head Up
8 - Black Flies
9 -  Gracious
10 - Promise



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os Paralamas do Sucesso - Selvagem? [1986]

1986. 

Após estourar com O Passo do Lui, Hebert, Bi e Barone partem em turnê pelo Brasil após a apresentação consagrada no Rock in Rio (tipo, um Rock in Rio de verdade, não do tipo que engolimos recentemente). Passando por caatingas, planíces verdejantes, skylines em metrópoles, subúrbios, zonas rurais, Cristo Redentor, praias, favelas, condomínios e tudo mais que essa pátria amada tem, o trio começa a despertar concepções sobre o país em que vive. 

Sim, senso crítico. Uma coisa que todo ser humano deveria ter. Ou pelo menos tentar. Durante as viagens da turnê os Paralamas veem como o país realmente é, longe de ser um território com uma economia forte, uma democracia em evolução e uma saúde impecável, como todo governo petista ou tucano gosta de ressaltar. 

Fome, miséria, abandono, precariedade, alegria, ritmo, música, sorrisos, os imensos contrastes que só a sociedade brasileira é capaz de criar, com muito sofrimento e diversão. Enxergando o Brasil em sua essência, Herbert fixa a tonalidade do terceiro álbum do grupo: seu próprio país. Mas, para isso ele sente a necessidade de romper com a linha dos novos grupos da época. Não mais punk, rock e pop. Os Paralamas tocariam ska, reggae e mpb, em um experimentalismo brutal para uma banda de Brasília. 

A notícia cai como uma bomba para a gravadora e para os coleguinhas de plantão. Após o sucesso de O Passo do Lui, era praticamente impositivo que a fórmula fosse repetida no próximo álbum. Por deixar de lado a necessidade de seguir a linha de canções amorosas seguindo a tônica da época, Herbert foi duramente criticado dentro do meio. 

Dinheiro, fama e mulheres seriam trocadas por baladas da Jamaica falando de miséria? Sim. A EMI compra a briga e Liminha passa a produzir a ideia. A partir daí que se começa a notar o quanto esse trio se diferenciava de muitos outros.

Nasce Selvagem, com uma musicalidade efervescente aliada a parcerias como a de Gilberto Gil, os Paralamas do Sucesso trazem maturidade a uma turma de garotos que abria seus olhos para o mundo à sua volta. Para seu próprio país. Para além de seu próprio umbigo. Com "Alagados" e "A Novidade", retratando a realidade brasileira, "Teerã" que incorporava o reggae jamaicano, e "Selvagem" que dá título a obra, o disco vende 700.000 cópias e os coloca de vez entre as maiores bandas do país. 

01 - Alagados
02 - Teerã 
03 - A Novidade
04 - Melo do Marinheiro
05 - Marujo Dub
06 - Selvagem
07 - A Dama e o Vagabundo
08 - There´s a party
09 - O Homem
10 - Você
11 - Teerã Dub


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Kings of Leon - Only By The Night [2008]

São 8 horas da manhã. Todos começam a acordar para uma manhã de domingo na casa dos Followill. O pai, Leon, acaba de chegar de viagem após mais uma aventura de pregações por cidades do estado do Tennessee, exaltando o nome do Senhor e tudo que ele pode fazer pela vida de todos nós, pobres mortais. 

Os irmãos Caleb, Matthew, Nathan e o pequenino Jared embolam na cama, ainda cansados de acompanhar o pai, extremamente irritados de mais uma vez levantar cedo para tocarem música gospel na igreja do bairro. Caleb olha o relógio, enquanto o pai pela enésima vez os chama para o café da manhã. "Que saco - pensou - queria mesmo ficar aqui ouvindo meu disco dos Pixies''.

Essa era uma cena cotidiana na vida dos irmãos do Kings of Leon, a obediência à vida regrada, baseada na educação rígida e religiosa imposta pelo pai, marcaram para sempre seus integrantes, deixando um único legado: a música. Foi com esse aprendizado que eles começaram a desenvolver ainda adolescentes, em Nashville, sua terra natal, os primeiros roteiros de uma banda de rock.

Oito anos após seu início, a banda dos Followill lança seu disco mais maduro e conceituado até então: Only by the Night. A pegada caipira de Youth and the Young Manhood, dá espaço a uma criação bem mais complexa, fazendo uso de riffs concisos e uma presença maciça do piano em várias harmonias. 

Contribuindo bastante para a maturidade do grupo, foi a nítida evolução de Caleb como frontman, trazendo seu tom único como mais um instrumento melódico para as músicas da banda.

Mesmo considerado por muita gente (inclusive por mim) como um grande disco, moderno, conciso e complexo, típico de uma banda que futuramente será considerada de grande porte, Only By the Night encerra um lado experimental que havia começado com Because of The Times. De todo modo, é forte candidato a um dos melhores discos da década. 

Papai Leon deveria ficar orgulhoso de seus Kings.

01. Closer
02. Crawl
03. Sex on Fire
04. Use Somebody
05. Manhatan
06. Revelry
07. 17
08. Notion
09. I Want You
10. Be Somebody
11. Cold Desert

Link: http://www.*4shared*.com/rar/4n88PRPZ/Only_By_The_Night.htm


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

James Blunt - All The Lost Souls [2007]

Deve ser extremamente complicado sair de um disco de estréia com um hit implacável em vendas e a imensa expectativa na criação de um novo álbum que repercuta em sucesso e dinheiro o valor do primeiro. Essa sensação deve ter sido experimentada por James Blunt na composição de All The Lost Souls. É nesse momento que o artista pode fazer alguma idiotice e colocar a perder toda uma propensa carreira meteórica que está por vir. 

Não se enganem crianças, ninguém vive profissionalmente de música simplesmente porque acha bonitinho. Utilizar seu talento de forma inteligente pode ser extremamente rentável e trazer enormes frutos pessoais também. Ninguém quer estragar uma vida do dia pra noite. Por mais artístico que se auto-intitule.

Nessa toada James se aliou a alguns compositores como Mark Batson, Steve McEwan  e Max Martin para criar um disco que refletisse seu lado romântico de forma extremamente clara. Essa idéia derivou inúmeras críticas por parte da imprensa musical, principalmente da Rolling Stone, que classificou o álbum como "baladas esquecíveis". Pobres americanos. Não sabem o que dizem. O que na verdade All The Lost Souls traz é um álbum concebido em cima de um conceito de música romântica que vende, é legal e faz sucesso até hoje. 

Afinal, é completamente humano nos revestirmos de sentimentos bons ao convivermos com quem nos faz bem. Essa idéia quando refletida no campo amoroso e sexual traz o maior ambiente possível para a criação musicial. É por isso que sou fã de músicas românticas. No fundo, é preciso muito coração pra se fazer uma. E muita coragem pra assumir o que se sente.

Desse modo, esse inglês ex-combatente em Kosovo traz uma linha clássica nas composições do disco, com uma entrada melancólica, um ápice e um fim novamente melancólico praticamente em todas as faixas. O que poderia soar como mesmice traz uma coesão e coerência que fazem desse CD um bom disco romântico. E é assim que desfilam coisas como "1973", "Same Mistake" e "Carry You Home'', sempre aliadas aos riffs de piano e o acompanhamento da guitarra, pela primeira vez sutil e elegante, explorando o timbre do inglês. 

Na verdade, o único pecado da obra é a abstração de James em alguma de suas composições, sempre revelando uma tendência a fugir da autobiografia constante no primeiro disco. Talvez por isso, All The Lost Souls, seja um contraponto do primeiro disco. Enquanto Back To Bedlam tinha um conceito íntimo, o segundo disco abre as portas para uma melancolia sentida por todos. Melancolias inesquecíveis e necessárias.

01- 1973
02- One of The Brightest Stars
03- I´ll Take Everything
 04- Same Mistake
05- Carry You Home
06- Give Me Some Love
07- Shine On
08- Annie
09- I Can´t Hear The Music

 Link: http://www.*4shared.com*/rar/xHB3DUhM/All_The_Lost_Souls__Deluxe_Edi.html





quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Maria Rita - Maria Rita [2003]

Maria Rita. Filha de Elis Regina. Essa rotulação acompanha e deverá acompanhar a cantora em toda a sua carreira. Não é por menos, Maria Rita é filha da maior cantora do Brasil. Sim, da maior. Me desculpem Ivete Sangalos e Cláudia Leittes da vida, mas, ninguém interpretava uma canção como Elis. 

Algo estupendo como um furacão, um tornado, uma explosão de sentimentos baseado apenas na música. Parecia que a canção fazia parte das suas veias, acho que talvez o fizesse. Elis foi um cometa que desapareceu rápido na música brasileira, a marcando para sempre. Sua filha, nesse primeiro CD, começou a tentar trilhar esse caminho.

O grande problema dos filhos de artistas é a sua constante comparação com seus pais. A questão é que pessoas são diferentes, não importa o quanto parecido sejam de outras, e isso é duro de aceitar, principalmente pra quem o faz de longe, como um observador quase distante. Como filhos de gênios, por mais propensos que sejam a seguir o que seus pais fizeram, sempre irão encarar dificuldades que todos encontrariam. Ninguém é copia de ninguém. Todos temos nossas originalidades.

Nesse primeiro CD, talvez Maria quisesse estreear na música com um pouco da lembrança de sua mãe. O cabelo curto, o sorriso na capa em preto e branco e a interpretação de grandes compositores da nossa época. Entretanto, ela é inteligente pra saber que não é a mãe, não podendo pautar sua carreira em uma idéia idiota como essa.

Para nossa sorte, sua tentativa visual é apenas conceitual e não uma intensa construção marketeira que poderia destruir seu talento. Como intérprete de letristas, escolheu como parceiros grandes compositores brasileiros contemporâneos e antigos. De Marcelo Camelo exalta "Veja Bem Meu Bem', 'Cara Valente' e 'Santa Chuva'. Do galego Lenine escolheu "Lavadeira do Rio'. De Milton Nascimento trouxe 'A Festa'. E da maior roqueira do país, Rita Lee, cantou 'Agora Só Falta Você' e 'Pagu.' Tudo assinado por Tom Capone.

Pagu. Talvez a grande canção que exalte mulheres como Elis e como a filha, Maria Rita. A mostra viva que nem toda brasileira é bunda. Um ótimo disco de estréia. Com certeza a mamãe ficaria muito feliz e daria um sorriso daqueles.

01 - A Festa
02 - Agora Só Falta Você
03- Menininha do Portão
04- Não Vale à Pena
05- Dos Gadenias
06- Cara Valente
07- Santa Chuva
08- Menina da Lua
09- Encontros e Desencontros
10- Pagu
11- Lavadeira do Rio
12- Veja Bem, Meu Bem
13- Cupido

Link:  http://www.*4shared.com*/rar/gZY_AU6A/Maria_Rita.htm


quinta-feira, 24 de maio de 2012

The Libertines - Up The Bracket [2002]

Em alguma época, motivados pelos surgimentos dos Strokes, surgiram diversas bandas inglesas e americanas com "The" no início de seu nome. Um resgate ao rock sujo, de garagem, formado com sequências de acordes rápidos elevados por batidas concisas e certeiras durante uma fração pouco maior que 2 minutos. 

Era o punk de volta, não como conhecíamos nos anos 70, mas de certa forma resgatando um pouco do lirismo em poucas notas que havia se perdido na metade dos anos 90. Era como se a onda grunge estivesse de volta só que com calças mais apertadas, jaquetas de couro e um bom espaço em qualquer veículo de mídia. Sobretudo a internet. 

Entre coisas como The Hives e The Vines, havia The Libertines. Com certeza, considero como os melhores dessa turma. Simplesmente se tinha de volta Keith Richards e Sid Vicious personificados na figura de Peter Doherty. Para quem está o conhecendo pela primeira vez nesse texto. Eu devo avisar. Esse cara é muito louco. 

Mas, tão louco que às vezes parecia brilhante. Porque caras tão malucos são assim, por debaixo de suas doidices sempre há um pouco de genialidade. Por mais que parecesse apenas mais um drogado empurrando uma guitarra pelo meio de Londres, Doherty contava com um lirismo pouco encontrado em bandas de seu gênero.

O nível cultural que parecia influenciar os Libertines vinha de coisas como Smiths, Kinks, Clash, Sex Pistols,  grupos obrigatórios se você é um britânico que pretende viver fazendo música com o mínimo de decência. Aliado a influência musical também bebiam muito na literatura, principalmente de poetas ingleses do século XIX à Charles Dickens. Alguma modernização de Lord Byron ou coisa do tipo.

Foi assim que em 1997, Doherty se juntou a Carl Barât para compor e começar a dar os primeiros passos na noite londrina. 

O engraçado sobre esses caras e que por muito me admira é que resgatando aquela origem garagista da década de 70 tocavam em qualquer canto. Qualquer canto mesmo, seja um bar de quinta categoria frequentado por elementos de alta periculosidade até festas em colégio municipal. Não havia jeito. Eles estavam lá pra fazer rock´n´roll não importa onde fosse.

Foi no meio dessa explosão na nova cena do rock inglês que eles lançaram Up The Bracket em 2002. O disco foi muito bem recebido pela crítica e fez com que Doherty e Bârat fossem elogiados em toda a comunidade musical inglesa da época alcançando o status de novas caras do rock britânico. Mas, o grande problema continuou sendo Doherty que aumentou ainda mais sua dependência em cocaína. 

Conta Carl Bârat que um dia pegou Pete invadindo sua casa procurando bens pra alimentar seus traficantes. Enfim, a banda sucumbiu como nos anos 70, diante das drogas. Fica um disco direto, conciso e revitalizador. Como sempre, o sotaque britânico é impagável.

Curiosidades: Eleito pela Revista NME Britânica como o 2º melhor disco da década de 2000.

01- Vertigo
02- Death On The Stairs
03- Horrorshow
04- Time For Heroes
05- Boys In The Band
06- Radio America
07- Up The Bracket
08- Tell The King
09- The Boy Looked At Johnny
10- Begging
11- The Good Olds Day
12- I Get Along.