Ah, o Sul. Uma região que nunca fui e tenho imensa vontade em conhecer. Afinal, parecem seres muito mais civilizados que essa sociedade que conhecemos aqui ao norte. Ao longo das últimas três décadas, os sulistas trouxeram grandes contribuições ao rock brasileiro. Humberto Gessinger? Claro. E uma enorme trupe. Nenhum de Nós, Cidadão Quem, Bidê ou Balde, Wander Wildner.. A lista é enorme e impera respeito.
Entre eles, adentrando essa década mequetrefe para a música brasileira, entre "shimbalaiês" e calças coloridas, algumas cabeças parecem destoar da imensa massa e apontar para um novo rumo. Rumo esse que condiz com a sequência de bons nomes do rock gaúcho que merece passar por aqui.
E esses bons nomes, são os caras do Apanhador Só. Coincidência ou não, atentei pela primeira vez ao som desses caras quando notei a referência entre o nome da banda e Apanhador no Campo do Centeio, um dos meus livros favoritos. A história de Holden figurou por muito tempo na minha adolescência, como uma das melhores obras que já li. Indico para qualquer um que tem um "aborrecente" em casa, um clássico necessário a qualquer formação. De sua mistura com "Marinheiro Só" do Caetano Veloso surgiu o título do grupo.
O começo foi bem típico, e com uma qualidade já evidente. Aos 15 anos Alexandre Kumpinski já entoava clássicos do The Who, dos Beatles e fazia uma mistura inovadora com sons de Chico Buarque, em tom de powertrio. Nas palavras de Alexandre, quase bacharel em letras, um aviso: 'para escrever, não é necessário se fazer um curso.' Sábias palavras, meu jovem. Sábias palavras.
Afinal, as letras líricas da banda preenchem um vazio que há muito tempo permeia as novas bandas, ainda tão ligadas a necessidade de reproduzirem Marcelo Camelo, pode-se formar sua própria poesia, a evolução é constante.
Com a chegada de Carina Levitan, a percussão com cara de sucata começou a dar o ar da graça, fundamental aos novos projetos da banda. Com Felipe Zancanaro na guitarra e algumas mudanças no grupo, tornou-se a forma atual: Kumpinski, Zancanaro, Fernão Agra e Martin Estevez (ô povo pra gostar de nome gringo).
Após umas temporadas e alguns Eps, surgiu a necessidade de um primeiro disco. A Fumproarte (Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre) abriu edital para seleção de projetos, fazendo com que Kumpinski e sua turma jogassem uma demo de Embrulho pra Levar, o primeiro EP).
Com o parecer positivo da comissão de licitação (na terceira tentativa), praticamente todo aquele EP estaria presente nesse primeiro disco. Justo. Para quem ainda não conhecia, foi como revisitar os primeiros passos da banda. De qualquer maneira, sempre importante.
Apanhador Só sabe bem o que quer, letras concisas, irônicas, amorosas, aliadas a uma variedade de ritmos que à primeira vista impressiona. Do romantismo ao violão a um baião entoado nas guitarras, os meninos demonstram que não seguem fielmente seu rótulo gaúcho, não precisando usar galochas e reinventarem Engenheiros do Hawaii. Tem seu próprio valor.
Jovens de próprio valor, isso tá fazendo falta pra caramba hoje em dia.
01- O Rei e o Zé
02- Pouco Importa
03- Prédio
04- Maria Augusta
05- Peixeiro
06- Bem-me-Leve
07- Nescafé
08- O Porta Retrato
09- Baião-de-Vira-Mundo
10- Jesus, O Padeiro e O Coveiro
11- Origames Over
12- Vila do Meio-Dia
13- E Se Não Der
Link: http://www.apanhadorso.com/
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