11 entre 10 crianças que nasceram na década de 90 sabem de cor ''Faroeste Caboclo''. Nasceram e cresceram por entre fábulas e lendas sobre um compositor homossexual da década de 80, chamado Renato Manfredini, o Russo, para os íntimos. Com um vozeirão e uma imensa sensibilidade em suas canções, Renato foi, sem dúvida, o maior expoente do rock nacional brasileiro até hoje.
Duvido, que depois de sua geração apareça alguém capaz de significar no imaginário dos jovens brasileiros o que ele significa. Uma pena, que não criamos mais jovens assim. Mas, diante de uma juventude burra, alienada e irrelevante, ainda encontramos gente que sabem cantar suas músicas do início ao fim, em qualquer hora do dia, seguindo seus passos mesmo mais de 15 anos depois sua morte.
Em 1987, a Legião Urbana já se consolidava como uma das maiores bandas do país. O boom dos anos 80 já dava sinais que estava enfraquecido, e nada mais que despertasse grande interesse surgia. Renato teve uma ascensão interessante, já que foi um pouco tardia em relação a seus contemporâneos de estilo, como os Paralamas do Sucesso. O fato de ter aparecido depois, fez com que seu auge coincidisse com a queda na popularidade de outras estrelas, como o Barão Vermelho. Isso, com certeza, influenciou no impacto de recepção desse disco.
O disco, em si, era o terceiro da banda, com um punhado de canções que estavam esquecidas desde o fim do Aborto Elétrico, banda inaugural do rock brasiliense, criada por Renato Russo no fim da década de 70. A maioria Renato já havia composto há quase 10 anos atrás. Entre elas, uma chamava a atenção. Uma epopéia de 168 versos e nenhum refrão sobre um tal de João do Santo Cristo. Um grude gigantesco.
Para quem vivia em Brasília no início dos anos 80 e convivia com Renato, a fama do compositor de Faroeste Caboclo já ganhava força, porque, ao primeiro som, criava uma atmosfera de amor à primeira vista. Foi assim com os primeiros acordes no Planalto Central, e seria, com sua difusão nacional.
Esquecida por aqui, achei uma das versões sobre a origem da música. Flávio Lemos, baixista do Capital Inicial e amigo de infância de Renato, foi passar um belo fim de semana no Rio de Janeiro, com a família Manfredini. Em uma viagem pra Búzios, da qual Renato não foi, Flávio transou com uma prima de Renato, chamada Mariana. A qual, esse nutria um amor platônico, não correspondido. Ao chegar no Rio, a menina contou a todos. Nas palavras de Flávio:
"Quando voltei, ele já sabia. E considerou aquilo uma traição. Cheguei de madrugada, tinha viajado a noite toda, e ele me acordou bem cedinho. Renato tinha passado a noite inteira escrevendo a música. Ele me disse que eu era o Jeremias, o maconheiro sem-vergonha. Ele era o João de Santo Cristo - olha o nome que ele tinha dado a si mesmo! - E a prima Mariana era a Maria Lúcia. Renato criou um épico com essa história."
E foi um épico mesmo, a Legião Urbana tomou o lugar estrondoso do RPM, se consolidando a passos firmes na cena mainstream da música brasileira. De Globo de Ouro a disco de diamante, não havia limites para onde esses caras tinham chegado. Renato, tentando explicar o sucesso do disco, declara:
"Acho que (o sucesso) tem a ver com a tradição da música folclórica no Brasil, de possuir uma ligação forte com a narrativa - a música sertaneja tem muito disso." "Fora o fato de a música falar de um cara que está sofrendo altas dificuldades, tentando manter sua honra. As pessoas se identificaram com isso.''
E se identificam, até hoje, Que País É Este é um disco atemporal. Marcado intensamente pelo sentimentalismo de Renato, seja em sua face explosiva ou amorosa. Uma personalidade diferente, sem dúvida.
Curiosidades: Que País É Este, Conexão Amazônica, Mais do Mesmo e Faroeste Cabloco sofreram censura.
01- Que País É Este
02- Conexão Amazônica
03- Tédio (Com um T Bem Grande pra Você)
04- Depois do Começo
05- Química
06- Eu Sei
07- Faroeste Caboclo
08- Angra dos Reis
09- Mais do Mesmo
Link: http://www*.fileserve.com/file/CSQPww7
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