Acho que de todos os discos desses mitos, o menos encarado com seriedade ou idolatria é o 4. Aqui não existe folia, não existe um emprego pesado dos metais, não existe Ana Júlia, não existe Carnaval sem fim, nem Primavera com A Flor. Amarante, Camelo, Medina e Barba denotam a única latente idéia desse disco do início ao fim: a simplicidade.
Daí, a partir dessa característica, torna-se um disco indescritível e essencial na minha vida. Porque eu, dentre inúmeros defeitos, sou passivo, calmo, simples e poético. A produção desse disco assim com o Ventura, foi regada a ares de fazendinha, os Hermanos subiram a Serra, se trancaram alguns dias em uma chácara, e do resultado de um ambiente tão metido a Big Brother nasceu essa obra-prima. Como Medina explica, a importância de alguns amigos na composição foi fundamental. Entre eles, Fernando Catatau e sua guitarra em 'Fez-se Mar', Edu Morelembaum e um empréstimo de idéias que fizeram surgir clarinetes, trompetes e fagotes em 'Dois Barcos', e o vibrafone de Jota Moraes em 'Sapato Novo'.
Sou obcecado por composições simples, bem executadas e perfeitas. Perfeitas, na minha leiguice típica, significa uma métrica impecável, aliada a ironias, declarações de amor, qual do quê, dos quais e poréns. O que só Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo poderiam trazer de uma forma tão moderna e bossa nova style quando nesse disco. Com essa pérola eles saíram do rótulo de adolescentes, apareceram consideravelmente como grandes compositores e iniciaram uma vida adulta.
E é exatamente por essa transformação, que o 4 faz tanto sentido pra mim. Assim como o som que ele emite, percebi que a busca incansável pela personalidade, felicidade, dinheiro, guerra contra o sistema, power for the people e tudo mais que um adolescente pode pensar não faziam mais tanto sentido, já não tinha tanta graça. Era hora de parar, sentar, admirar o que ainda estaria por vir, e seguir em frente, apontando pra fé e remando, com simplicidade, calma e tranquilidade.
Que os sentimentos e a prudência eram realmente importantes, permanecer são, distinguir o benefício do malefício e o que deveria estar em pauta do que deveria ir à merda, revoluções por minuto que me fizeram entender alguma coisas da vida, na minha petulância de achar que entendo alguma coisa quando nem 2 décadas completei direito. Bem, vamos ao que interessa:
Dois Barcos: lindo arranjo. 'Aponta pra fé e rema', segue em frente, veste uma roupa, lava o rosto e começa um novo dia.
Primeiro Andar: deixar ser levado, menos complicações, abaixo as implicações, viva o caminhar, o seguir. 'Não faz disso esse drama, essa dor, é que a sorte é preciso tirar, pra ter.'
Fez-se Mar: talvez a mais simples de todas. a degustação da felicidade, o tal do amor batendo à porta, 'parece que o amor chegou aí.' Coisas que todos sabemos que é passageira, banais, mas, são necessárias a alimentação emocional do ser humano. 'Eu meço no vento, o passo de agora.'
Paquetá: o fora levado diversas vezes, a incansável busca por um amor impossível, os velhos bordões, as velhas situações, a dúvida do desistir, o alívio em não conseguir desistir, a alegria de saber o que o coração quer.
Os Passários: a melhor guitarra do disco. o dia seguinte a uma despedida, o acostumar, 'que diferença? o dia se fez assim.' a única coisa que parece normal é o vôo dos pássaros, a coisa mais anormal é lembrar de quem se foi.
Morena: 'pra nós, todo o amor do mundo'. se o amor parecia que tinha chegado, aqui ele chegou de vez. não há mais maldade, Deus não parece tão injusto, que todos se fodam, não quero saber de mais nada, eu sou feliz, você tá comigo, e é isso que interessa. 'até o fim raiar.'
O Vento: a melhor composição de um filho da puta chamado Rodrigo Amarante. 'não te dizer o que eu penso, já é pensar em dizer.' os clichês, a dúvida, as contradições, nada mais importa muito porque a sensação é boa, marcou e quer ser repetida, no fim das contas é esperar, que 'o vento leva'.
Horizonte Distante: 'por onde vou guiar o olhar que não enxerga mais?' não adianta querer enxergar o que a escuridão já fez se perder, é achar outro horizonte e aprumar. 'que através eu vi, só o amor é luz.'
Condicional: psicologia reversa. 'tanto te soltei que você me quis em todo lugar'. a vida a dois, onde dois significa 1 + 1, sem frescura de dois corpos em um, dois corpos formando um, sacou?
Sapato Novo: 'como vai você? levo assim, calado'. o conformismo chegou, a chuva já secou, não há nada mais pra segurar ou consertar, que tudo seja passado, que venha o novo. 'só levo a saudade, morena, e é tudo que vale a pena'.
Pois é: não deu. que porra se tem que fazer mais? não deu, bola pra frente. é de se entregar o viver.
É de Lágrima: 'que esse daqui, ainda tem muito mais amor pra dar', ouviu?
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