Após ter visto seus sogros, companheiros, e todos os seus parentes situados no posto dos dois exércitos, Arjuna ficou com grande compaixão e pesar, dizendo as seguintes palavras: Ó Krishna, vendo meus parentes, fixos com o desejo de lutar, meus membros tremem, minha boca começa a secar. Meu corpo estremece e meus cabelos se arrepiam. (1.27-29)
Arjuna, princípe de seu reino, enfrenta um grande dilema quando presencia no campo de batalha seus parentes e amigos mais próximos entre aqueles dispostos a usurpar o seu trono. Desnorteado, pede ajuda a Krishna, o profeta do Hinduísmo, para que explique e o ilumine perante essa decisão.
Krishna explica que a única forma de superar essa situação, seria confiar em seus ensinamentos e enfrentar as pessoas que mais amava, como única forma de manutenção do seu trono e de sua própria vida. A parábola presente no Bhagavad Gita, o livro mais importante da religião Vaishnava, contém um dos ensinamentos mais essenciais da filosofia oriental: a auto-realização.
Perante ela, o homem para tornar-se livre e pleno precisa ter conhecimento de si próprio, olhar para dentro de si e compreender a necessidade em livrar do seu Eu os males que o Ego pode trazer. Desta forma, assim como Arjuna abraçaria Krishna e lutaria contra as pessoas que mais amava, o homem deveria lutar contra si próprio para alcançar a libertação e se transformar no super-homem (aquele invocado por Nietzsche em 'Assim falou Zaratustra', milhares de anos depois).
Sem dúvida, apesar de eu não ter ligação com nenhuma religião, reconheço a belíssima literatura presente em alguns textos. Com certeza, Gita sem preconceito de nenhum tipo, pode ser lido por qualquer pessoa que queira compreender o fenônemo do auto-conhecimento. Algumas coisas nos fortalecem o corpo, outras, o espírito.
Imerso nessa riqueza de espiritualidade, Raul Seixas compôs ao lado de Paulo Coelho, a canção mais admirada de sua vasta discografia: 'Gita'. O refrão, tão adorado por nós, é apenas uma reprodução do capítulo em que Krishna explica a Arjuna a necessidade de acreditar nele, porque ele era o 'Tudo e O Nada'.
Raul, após abandonar as primeiras infuências de Elvis Presley e do rock americano dos anos 50, passou a misturar filosofia oriental, bruxaria e paganismo em seu som. De Raulzito, viraria Maluco Beleza, algo totalmente natural na evolução da personalidade de todo mundo, cada um deve procurar aquilo que lhe torne mais próximo de sua essência. O maior roqueiro do Brasil, é também um dos preferidos de alguém que amo consideravelmente, sua presença aqui além de totalmente justificável, era uma obrigação.
Gita elevou Raul a uma profundidade letrística única no rock brasileiro, ninguém por aqui tinha muita idéia de como se faza isso, todo mundo admirava o que Dylan fazia, com aquela cara de: 'Porra, eu queria saber fazer isso'. Mas, Raul fez como ele, e fez divinamente. Lançado em 1974, foi seu terceiro álbum e o mais vendido.
Além do Bhavagad Gita, Raul extremamente influenciado pela amizade com Paulo Coelho, introduziria parte da filosofia do bruxo Aleister Crowley em 'Sociedade Alternativa', um alquimista que queria construir uma sociedade baseada numa máxima de libertação, onde tudo se resumiria em uma única lei: todo mundo é uma estrela, faz o que tu queres, há de ser tudo da lei.
As influências alquimistas e religiosas de Raul podem ficar para um próximo post, é uma ótima pedida para um especial. O disco ainda se perfaz com as belíssimas 'Medo da Chuva' (minha preferida em toda discografia Seixiana) e o 'Trem das Sete'. Um disco único, pra mim um dos maiores de toda a música brasileira, que levou Raul Seixas ao exílio e a eternidade no coração de muitos brasileiros.
Toca Raul!
01- Super Heróis
02- Medo da Chuva
03- As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor
04- Água Viva
05- Moleque Maravilhoso
06- Sessão das 10
07- Sociedade Alternativa
08- O Trem das Sete
09- SOS
10- Prelúdio
11- Loteria da Babilônia
Link: http://www.*4shared*.com/file/rM3nFMhH/raul_seixas_-__1974__gita.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário