José Ribamar dos Santos, o Baleiro. Creio eu, que nessa minha já vasta presença em shows de muita gente, foi quem eu mais vi. Conto 4 apresentações, ao todo. Zeca Baleiro é oriundo de São Luís do Maranhão, a terra do reagge.
Esse maranhense sempre teve ligado a música, começou sua carreira escrevendo músicas infantis para teatro, depois pinotou para São Paulo, onde passou a dividir apartamento co
m o maluco do Chico César, aflorando de vez suas composições até chegar a 'Flor da Pele', lançada por Gal Costa.
Não dá pra dizer que Zeca seja unicamente um cantor de MPB, é mais ou menos o que a sobriedade de Lenine não deixa escapar: ninguém hoje faz MPB. Esse gênero utilizado pelo mercado comercial e pelo boca-a-boca das pessoas está preso a figuras como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, há muito tempo vivemos outro momento, onde a interatividade de ritmos é que fazem a totalidade da boa música feita por aqui.
De tudo que esse vendedor de doces já fez, o meu preferido é Pet Shop Mundo Cão, talvez o mais renegado entre o grande público. Pet Shop é, além de tudo, louco pra caramba. Zeca mistura côco, samba, eletrônico, Roberto Carlos e rock´n´roll em uma salada de puro refinamento, fazendo com que seja com certeza seu mais genioso trabalho. Para se ter uma idéia da complexidade de temas desse disco, vou listar aqui as preciosidades como se fossem relacionadas a tópicos de um artigo científico, um índice pseudointelecutal muito mal feito, vamos lá:
1- Multivariedade racial e cultural: em 'Minha Tribo Sou Eu, Zeca traz a noção de como é fútil a discussão sobre dogmas raciais e culturais, na verdade, o ser humano moderno é cada vez mais cosmopolita e contemporâneo, e todo bairrismo, que gente como eu ainda costuma a colocar, é frágil de argumento e aplicação.
2- Alienação do Trabalho: como muita gente sabe, trabalhar é uma merda. É a grande causa de alienação e subdesenvolvimento da capacidade humana, como o velho Chaplin já dizia em Tempos Modernos. 'Eu Despedi o Meu Patrão', é uma libertação das amarras do meio produtivo capitalista, sonho de muitos, e privilégios de poucos.
3- Apego à Tecnologia: Em 'O Hacker', exercita um bom jogo de palavras utilizando-se da união entre a vida cotidiana e símbolos tecnológicos como a Internet. O chat das 5, que hoje substitui o antigo encontro entre rodas de amigos.
4- O espetáculo do Mundo Business: A mentalidade cada vez mais aliada a utilização de tudo e de todos como forças de um meio produtivo aparece em 'Mundo dos Negócios', o popular ganhar dinheiro com tudo e de todas as formas. A arte cada vez mais subjulgada pelo negócio.
5- O Cotidiano e a Urbanidade: a rotina que qualquer um cai e que profundamente gente como eu deseja em 'Filho e Um Cachorro', afinal, o ideal de família burguês existe desde a Revolução Francesa, somos filhos dele e nossa maioria, pelo menos ainda, persiste como os propagadores dele.
Depois dessa mostra de até onde a poesia de gente como José Ribamar vai, fica obrigatório curtir esse disco, afinal, o mundo é cão, mas, nós não.
01- Minha Tribo Sou Eu
02- Eu Despedi O Meu Patrão
03- O Hacker
04- Telegrama
05- Mundo dos Negócios
06- Guru da Galera
07- Drumembêis
08- Um Filho e Um Cachorro
09- Fiz Esta Canção
10- As Meninas do Jardim
11- Mundo Cão
12- Filho da Véia
13- A Serpente
14- Meu Nome é Nelson Rodrigues
Link: http://www.*4shared.com*/file/ofOk3foy/Zeca_Baleiro_-_Pet_Shop_Mundo_.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário