sexta-feira, 29 de julho de 2011

Engenheiros do Hawaii - Tchau Radar! [1999]

Karl Marx disse uma vez em 'O Capital' que tudo que é sólido desmancha no ar. Essa simples frase procurava explicar a sua própria teoria sobre o materialismo histórico.

Marx considerava que toda sociedade é fruto do seu modo de produção, portanto, a mudança deste também traz em consequência a alteração da própria sociedade. Por isso, quando o modelo comunista ruiu em plena União Soviética, arrastou consigo todo um bloco que vivia escondido por detrás de uma cortina vermelha.

De toda forma, somos assim também, o modo como vivemos a vida é bastante influenciado pela forma com a qual nós enxergamos ela. A partir do momento que alteramos nossa visão sobre determinado fato, agimos diferente em relação a ele, e, por consequência, somos levados a ter nosssa vivênciaparcialmente ou totalmente alterada. Foi, nessa mesma situação, que os Engenheiros do Hawaii chegaram a metade dos anos 90.

Augusto Licks, célebre guitarrista da banda, conhecido pela sua pegada clássica, deixaria o barco em 1993. O Trio entoado por cada fã como o melhor do rock brasileiro, composto por Gessinger, Licks e Maltz estaria desfeito. Restava, encontrar outro membro à altura, foi nomeado para o cargo Ricardo Horn, amigo de Humberto com formação em jazz e blues. Também se aliaria ao grupo Fernando Deluque (é, ele mesmo, o amiguinho de Paulo Ricardo) e Paolo Casarin. Os mesmos permaneceriam até 1997, saíriam junto com Carlos Maltz.

Cada vez mais, as transformações na formação só evidenciavam o gessingertrismo que os Engenheiros do Hawaii se tornariam, se ele era o melhor músico da banda, a partir de agora, seria a banda.

Junto com Luciano Granja, Adal Fonseca e Lúcio Dorfman, é lançado Tchau Radar!, em 1999, o décimo segundo álbum da banda. Desta vez, solto para compor como quisesse, Humberto se torna expresso, claro e conciso ao tratar de vários temas como o amor, a despedida, a sociedade e sempre balbuciar sobre filosofia.

De cara, uma das canções mais expressivas sobre amor que já compôs: 'Eu que não amo você.' Um sujeito abandonado e esgarniçado pela própria parceira, se vê em uma relação de amor e ódio durante longos meses enquanto tenta superar a dor de sua partida e conjurar a imagem que para seguir em frente era preciso murmurar: 'Eu que não fumo, queria um cigarro, eu que não amo você.'

Em seguida, uma das melhores versões de músicas do Dylan que já escutei, 'It´s All Over Now Baby Blue' vira 'Negro Amor' pelos dedos de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti. Continuando chegamos a 'Concreto e Asfalto' onde Gessinger dispara a necessidade de se auto-conhecer e de se aceitar antes de cada passo, porque lutar contra si mesmo de forma destrutiva e ilusória, é uma piada: 'se eu fosse um cara diferente, sabe lá o que eu seria?'.

'Até Mais' é um doloroso ensinamento sobre a despedida, como é difícil deixar pra lá algo sabendo que será permanente: 'diga até mais, mesmo se for adeus.' 'Nada é Fácil' é uma das mais realistas crônicas desse monstro do rock brasileiro, a sabedoria da existência de obstáculos em tudo na vida, e a necessidade de se deixar um mundo ideal de lado a procura da própria felicidade: 'reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz, que o crime não compensa e que tudo conspira a favor.' Pra não tornar isso aqui uma epopéia, fecho com a belíssima '3x4', canção que Gessinger escreveu para a esposa, Adriana Sesti, afinal, é sempre ótimo homenagear sua amada com belas frases.

Um disco que pôs os Engenheiros do Hawaii novamente em rota, e selou a Humberto dependência da banda, o modo produtivo estaria alterado, para dar lugar a novas composições. Meu disco preferido pós-Licks e Maltz.

01- Eu que Não Amo Você
02- Negro Amor
03- Concreto & Asfalto
04- Até Mais
05- Nada Fácil
06- O Olho do Furacão
07- Seguir Viagem
08- 10.000 Destinos
09- Na Real
10- 3x4
11- Melhor Assim
12- Cruzada
Link: http://www.*4shared.com*/file/peRkCu7a/Engenheiros_do_Hawaii_-_1999_-.htm

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