sexta-feira, 6 de maio de 2011

Chico Buarque - Construção [1971]

O maior compositor da música brasileira. Sim, ele é. O refinamento entre as letras e a fidelidade à bossa ao longo de uma carreira que beira os 50 anos é sensacional. Demorou pra aparecer por aqui, mas, posso dizer que aparece em grande estilo.

Francisco Buarque de Holanda é filho de Sérgio Buarque de Holanda, um dos maiores sociólogos do país. Esse passaporte para a vida foi essencial para a configuração da personalidade de Chico. Logo adolescente, herdou de seu pai uma rica amizade com Tom Jobim, maestro e compositor da eminente bossa nova, a partir daí, começava a brincadeira.

Naquela época, final dos anos 50, era interessante para todo jovem se formar em arquitetura, era até cool, devido ao crescimento vertiginoso do país após o Governo Kubitsheck e as grandes e megalomaníacas obras estarem em pauta. Brasília era o reflexo disso, todos queriam que seu filho fosse o novo Neymeyer. O pobre Chiquinho até tentou, mas, viu que aquela coisa de números e idéias não eram muito com ele, ele começava a despertar o interesse por outras áreas, entre elas, a música e a boemia. Andando com Jobim, conheceu um cara determinante para a vida que construiria, um tal de Vinicíus de Moraes.

Outra grande mente pensante brasileira, Vinícius foi diplomata. Diplomata, pra mim, é sinônimo de sabedoria. Para entrar no Instituto Rio Branco, o concurso mais difícil do país e se tornar um, é necessário amplo (muito amplo) conhecimento em sociologia, história, geografia e língua portuguesa. Ou seja, você precisa entender o país, seu povo, sua história e sua vida. Uma conjuntura que, digamos, não é avantajada no brasileiro, tanto quanto o latino-americano em geral. Com Vinicíus, Chico tomou idéia sobre a realidade em que vivia, e praticamente, aprendeu a compor. Esses conjunto de forças aqui e acolá começaram a moldar a personalidade do garoto, que decidiu chutar arquitetura e decidir: vou ser músico.

E é por essas e outras que chego em 'Construção'. Construção é seu 11º disco e um divisor de águas para ele, um clássico da música brasileira. Aqui há samba, há bossa, mas há um fator determinante nas composições de Chico a partir dos anos 70: a política. Se antes, por alguma forma, permanecia disfarçado, aqui aparece explícito. Se seu pai, ao estabelecer a teoria do homem cordial, criou uma análise profunda e enraizada do povo brasileiro, era direito que seu que continuasse a fazer isso por meio de versos. E é assim que ele trás a vida brasileira em meio a um governo ditatoria para dentro do samba.

Um povo batalhador, rotineiro, envolto a pressão de se calar perante um regime e arrumar o pão de cada dia. Ainda tendo que amar, beber, ver futebol e achar tudo bonito. 'Por esse pão pra comer, por esse pão pra dormir, por me deixar respirar, por me deixar existir.' Tudo parece uma concessão estatal, a vida em si, é uma permissão da sociedade, o lema: ame-o ou deixo-o é explícito e feroz, por muitas vezes alienante. Se 'Raízes do Brasil' tornou-se essencial para entender a sociedade brasileira, também o faz Construção, um disco clássico e também clichê na produção cultural brasileira, extremamente necessário para se entender o brasileiro, determinante para configurar um povo lutador, operário e sofrido. Seja na década de 70, seja hoje.

01 - Deus Lhe Pague
02 - Cotidiano
03 - Desalento
04 - Construção
05 - Cordão
06 - Olha Maria
07 - Samba de Orly
08 - Valsinha
09 - Minha História
10 - Acalanto

Link: http://www.*4shared.com*/file/4h3JuFdV/1971_-_Construo_-_Chico_Buarqu.htm

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