Bairrista como eu sou, bandas Pernambucanas deveriam aparecer bem mais por aqui. Essa obrigação é deveramente um pé-no-saco, mas, acho que de vez em quando posso alcançar essa virtude. Primeiramente, esse lugar deveria ser mesmo da Volver.
A Volver é recifense, parte gravataense (obrigado a parte que me toca: beijo mãe) e paulista por domicílio. De todos esses expoentes que apareceram pós-anos 2000 por aqui, é a que mais me agrada. Não pela simples ligação local, mas, muito mais pelo som que emite.
Prezar-se as raízes é ótimo, ter orgulho cultural e manter suas tradições também. Mas, como qualquer extremismo, não diversificar e alargar esse arcabouço é burrice. E é isso que acontece com grande frequência pelos lados da capital. A tentativa desenfreada de reviver o Manguebeat a cada passo dado por um grupo musical se torna estúpido porque é demasiadamente forçado.
E essa rotina, bem poderia ser copiada por Bruno Souto, mas, não foi. Não foi porque as influências vinheram de cantos mais longínquos e de fontes bem mais profundas, com o rock britânico, ilustrado claramente pelos Beatles. Nas palavras do próprio Bruno, o surgimento da brincadeira:
'O início da banda foi em 2003, se não me engano. Não exatamente começou, tinha o lance da idéia da banda: “Vamos fazer uma banda!”, isso em janeiro ou fevereiro de 2003. Eu tinha uma banda, pois comecei a gostar de tocar mesmo com os meus 14 anos. Minha pelada era isso. Deixei um pouco de passar o dia jogando futebol na rua e passei a ir muito aos estúdios para ensaiar mesmo. Não tinha nada de autoral, era só covers. A gente gostava do filme “Backbeat – Os cinco rapazes de Liverpool”. No dia que a gente viu, enlouqueceu. Ai, depois, ficamos ensaiando Green Day, Offspring, anos 90 e tal. Mas isso só na brincadeira. Daí teve uma época que começamos a fazer música autoral, só que um lance mais groove, mais funk e soul. Era algo mais coletivo. Só que eu sempre curti Jovem Guarda, Beatles, e ai quis fazer uma banda que tivesse essas influências. Foi quando eu chamei um amigo meu, Diógenes, o primeiro guitarrista da banda. E ficamos nessa vontade. A primeira música que eu fiz foi “Lucy” (do primeiro álbum, “Canções Perdidas Num Canto Qualquer”, de 2005). Está até na demo da banda.'
Nessa toada, apresento por aqui o segundo cd da banda, Acima da Chuva lançado em 2008, o preferido em relação ao Canções Perdidas num Canto Qualquer. É um disco de afirmação, de estruturação musical. Nele, os traços da banda começam a se desenhar muito mais de forma própria do que uma tentativa revival de estabelecer certos conceitos estrangeiros.E, ficou bom, muito bom. Bruno assume as composições do disco e acerta palmo a palmo, assumindo canções livres com pitadas de baladas românticas. Tudo certo, bem conceitual, aliada as guitarras de Kléber Croccia levaram os caras ao âmbito nacional.
A partir daí, após o Abril pro Rock 2009, a indústria e o mercado pernambucano ficaram pequenos, levando a ida à São Paulo. Sabe como é, gravadoras aqui, acolá, shows, aqui, acolá, tudo é mais perto, cômodo e a grana é maior. Mainstream e cosmopolitização andam de mãos dadas. Enquanto espero o terceiro cd dessa turma, apreciem o segundo. Que a coisa é boa.
1- Pra Deus Implorar
2- Dispenso
3- A Sorte
4- Não Sei Dançar
5- Natural
6- Tão Longe, Tão Perto
7- Acima da Chuva
8- Dia Azul
9- Coração Atonal
10- Clarice
11- Despedida em Seis por Oito
Link: http://www.*4shared*.com/file/ufNPi8pb/Volver_-_Acima_da_Chuva_-_2008.htm
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